GAFES
E FATOS CÔMICOS
Parte 9
Em 15 de janeiro de 1.985, Tancredo Neves
foi eleito Presidente da República, o primeiro civil
após mais de vinte anos de governo militar.
Na época eu era Diretor da Rádio Clube Paranaense
e, para cobrir o histórico acontecimento da posse do
Presidente, a emissora enviou a Brasília o seu eficiente
e experiente locutor noticiarista José Maria Pizarro.
No ano anterior, ele já havia transmitido, com sucesso,
a votação da emenda "Dante de Oliveira"
que visava restabelecer eleições diretas para
Presidente da República, e que não
obteve no Congresso os votos necessários para sua aprovação.
Nessa ocasião Pizarro havia varado madrugadas em seu
trabalho de reportagem. Desta vez, ele estava fazendo novamente
uma boa cobertura, e tudo correu bem até o dia da posse
de Tancredo Neves marcada para 15 de março.
No afã de realizar um bom trabalho,
durante vários dias José Maria Pizarro havia
dormido pouco, recolhendo-se tarde e acordando muito cedo.
Para se recuperar e estar em boa forma no dia seguinte, na
noite que antecedia a posse do presidente ele foi deitar mais
cedo e dormiu pesadamente.
Pela manhã, acordou mais tarde do que desejava e, meio
assustado, sem demora ligou para a Bedois para fazer um primeiro
boletim. E com aquela sua voz potente e agradável informou
aos ouvintes:
- "Dentro em pouco, diretamente de Brasília,
estaremos transmitindo um acontecimento memorável -
a posse do novo Presidente da República, Dr.Tancredo
de Almeida Neves".
E então ele passou a descrever
detalhadamente como seriam realizadas as cerimônias
de posse, para desespero nosso que estávamos em Curitiba
e tivemos que interromper a transmissão. Aconteceu
que enquanto Pizarro, exausto, dormia em sono profundo, a
História mudou o seu rumo e Tancredo Neves foi internado
às pressas no Hospital de Base, em Brasília,
acometido de fortes dores no abdome. A posse de Tancredo fora
cancelada, José Sarney assumiria o poder interinamente
e Pizarro não sabia nada disso. Foi por essa razão
que o tiramos do ar abruptamente.
Moral da história: repórter
em ação não pode repousar.
Em 21 de abril , após sete cirurgias,
Tancredo Neves faleceu e sua morte causou grande comoção
em nosso povo.
Felizmente a "barriga" de Pizarro
não o abateu e ele transmitiu aqueles acontecimentos
que abalaram a nação e a posse de José
Sarney que assumiu o Governo efetivamente em 22 de abril.
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José
Maria Pizarro - o grande noticiarista também
teve uma "barriga"
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Nos anos 60, quando atuávamos na Rádio
Clube Paranaense, o Moacir Amaral, o Hugo Von Linsingen e
eu fizemos juntos muitas pescarias. Freqüentemente a
gente aproveitava os fins de semana para pescar no litoral
paranaense. Certa vez nós conseguimos com a administração
do Porto de Paranaguá a cessão de um barco com
dois tripulantes e a autorização para passarmos
a noite na Ilha das Cobras. Como o barco era grande, convidamos
o Mário Vendramel, o Luiz Gonzaga de Freitas, o Ewaldo
Von Linsingen (divertido companheiro conhecido por Sidoca,
irmão do Hugo), o Ivo Ferro e outros amigos, num total
de dez ou doze pessoas.
A Ilha das Cobras, que fica em mar alto, já fora presídio
por algum tempo e, quando chegamos lá, um dos funcionários
responsáveis pela manutenção do local
nos contou que haviam encontrado um esqueleto humano quando
fizeram uma escavação recente.
Uma história puxa outra e durante um
bom tempo o bate-papo ficou limitado a causos de cadáveres,
almas do outro mundo, fantasmas e coisas do gênero.
E vieram as brincadeiras de que, à noite, as almas
apareciam naquele dormitório enorme onde estávamos
instalados.
Para surpresa nossa o Mário ficou apavorado e chegou
à beira da histeria, quase tendo um chilique ao ouvir
os ruídos da madrugada que por safadeza eram feitos
pela própria turma, sob o comando do Moacir Amaral
e do Sidoca. Eram batidas nas paredes, arrastar de pés,
sacudir de galhos das árvores ao lado, até gemidos
que vinham do lado de fora. Parecia o nosso "Teatro da
Meia-noite". E quando alguém xingava os supostos
fantasmas o Mário, apavorado, repetia:
- "Não brinquem com essas coisas! Não brinquem
com essas coisas!"
Em desespero, sem lembrar que o barco que
nos levara havia partido e só voltaria no dia seguinte,
ele queria sair imediatamente da ilha.
Altas horas da madrugada o Gonzaguinha e eu tivemos que acalmar
o Mário, pois ele estava realmente em pânico.
Depois de muito tempo, tendo até rezado junto com ele,
quisemos explicar que os ruídos estranhos foram feitos
pelos seus companheiros e era tudo brincadeira. Aí
piorou! Ele ficou doido de raiva, indo de cama em cama com
pedaços de gelo nas mãos pra jogar na turma
já cansada que tentava dormir. Só não
deu briga porque éramos todos muito unidos, mas ninguém
conseguiu dormir naquela noite.
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Mário
Vendramel, um susto na Ilha das Cobras
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Eu já falei que o Moacir Amaral era
fanático por pesca. Durante muito tempo ele assinou
uma coluna na "Gazeta do Povo", intitulada "Haliêutica",
onde ensinava a pescar e dava dicas de locais para os diversos
tipos de pescaria.
No embalo do Moacir, que era Diretor Comercial da Bedois,
o Hugo Von Linsingen que era seu assistente e eu, na época
Diretor Superintendente, com muita frequência fizemos
boas pescarias no litoral paranaense. Numa dessas fomos a
Caiobá, pouco mais de 100 quilômetros de Curitiba,
pois queríamos pescar na Ilha das Tartarugas, a conhecida
Ilha do Farol, em frente a Praia Bela.
O Moacir costumeiramente levava um arsenal de varas de pesca,
molinetes, chumbadas, linhas e anzóis que garantiam
a ele sempre o maior peixe em nossas amigáveis competições.
Entre a carga do "véio",
como a gente o chamava carinhosamente, nesse dia ele levava
com extremo cuidado, na mão esquerda, uma garrafa de
batida de limão e, estranhamente, um cálice
para sorver com requinte a bebida preparada com capricho.
Estavam construindo um edifício em frente da praia,
junto ao morro, acho que é o mais antigo dos grandes
prédios de apartamentos de lá. Ao lado da construção,
em via de acabamento, uma longa valeta de pedra ainda não
coberta, destinada ao escoamento de água pluvial. Resolvemos
pular a valeta, apesar de já termos tomado alguns aperitivos.
Na vez do Moacir, o "véio" deu o embalo e
saltou. Nossa!... Ele calculou mal a distância e chegou
com a ponta do pé ao outro lado da valeta. E foi lá
pra baixo, com as pedras esmerilhando a sua canela. Assustados,
o Hugo e eu fomos acudir o Moacir, mas ele estava bem. A calça
estava um pouco rasgada na perna, o material de pesca esparramado
na valeta, mas na mão esquerda levantada ele segurava,
cheio de orgulho, a garrafa de batida, intacta e borbulhante
com a sacudida forte que levara. E o cálice do requinte
estava sem o pé, mas com a parte do copo inteira, pronta
para ser enchida. Aliás, ele usou um pouco da bebida
para jogar sobre a canela raspada, achando que iria desinfetar
seu ferimento.
O pior é que quando voltamos da Ilha do Farol a maré
montante já havia encoberto o caminho de pedras que
a liga à praia, e viemos adivinhando onde pisar, apoiando-nos
nas varas de pesca que serviram de bengalas, chegando todos
com uma porção de arranhões nas pernas.
Coisas de quem se mete a pescador.
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Moacir
Amaral e Hugo Von Linsingen - com eles o autor deste
site fez grandes pescarias
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O Mário Vendramel, excelente locutor,
radiator, animador de auditório e até narrador
esportivo, brincava muito com o Arthur, o proprietário
do Restaurante Rio Branco, onde freqüentemente fazíamos
refeições. Houve um tempo em que ele pegou a
mania de ir até o balcão onde o Arthur ficava,
pedindo batidas com os nomes mais insólitos e extravagantes.
Claro que ele pedia coisas inexistentes, só para atormentar
o Arthur e seus funcionários. Ele chegava e, com aquele
andar de Mazzaropi, atravessava o salão indo até
junto ao caixa. E fazia seu pedido:
- "Arthur, me dá uma batida de
jerimum" - isso pra mexer com o proprietário da
Rádio Clube Paranaense, o Gonzaga, que era pernambucano.
- "Arthur, salta uma batida de chucrute"
- para abusar com o Sérgio Fraga que era descendente
de alemães.
- "Arthur, bota uma batida de piranha".
E assim por diante.
Certa vez, numa sexta-feira, bacalhau era
o prato do dia, o Mário Vendramel chegou, encostou-se
no balcão e saiu com essa:
- "Arthur, me dá uma batida de
bacalhau".
O Arthur desapareceu por instantes e, ao voltar,
trouxe um cálice transbordante e o colocou sobre a
mesa, próximo ao Vendramel.
Distraído, conversando e contando piadas, o Mário
sorveu um grande gole do cálice que estava a sua frente
e que aparentava conter batida de limão.
Foi um desacerto! O "aperitivo" era nada menos que
água, retirada da vasilha em que o bacalhau ficara
de molho para perder o excesso de sal. Quase deu um troço
no Mário, engasgou, ficou vermelho, e ao voltar do
banheiro, para onde fora com urgência, ele homenageou
o dono do restaurante com a fina flor do seu vasto vocabulário
de xingamentos. Isso tudo, ante as gargalhadas do Athur e
do resto da turma. E nunca mais o Mário pediu batidas
com nomes extravagantes.
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