GAFES E FATOS CÔMICOS

Parte 10

Hoje as coisas estão diferentes, mas, antigamente, era uma "pedreira" para um locutor esportivo fazer a transmissão de um jogo de futebol em algumas cidades do interior do Paraná. Os torcedores das equipes locais hostilizavam não apenas os jogadores adversários, mas, também, os locutores esportivos das emissoras de Curitiba.
As cabines eram inseguras e não foram poucos os que sofreram agressões de alguns fanáticos torcedores insatisfeitos com as narrações que ouviam. Não se podia criticar a equipe da casa sob pena de apanhar. Literalmente, apanhar.

O Osmar de Queiroz, que começou a sua carreira na Rádio Marumby e depois atuou na Rádio Clube Paranaense, certa vez foi a Paranaguá irradiar um jogo entre o Rio Branco local e o Ferroviário, de Curitiba, lá no "Estádio da Estradinha", (o antigo "Nelson Medrado Dias").
O Ferroviário daquela época, mais tarde passou a se chamar Paraná.
Já de início o Queiroz, pra chegar à cabine de transmissão, teve que subir por uma escada de pintor. Lá em cima, narrou o jogo e várias vezes criticou o time local cujos jogadores estavam batendo pra valer. Depois, repreendeu a torcida do Rio Branco porque alguém jogou um bloco de caliça sobre o Paulista, goleiro do Paraná.
Nossa! Foi a conta! Começaram a jogar caliça e pedras na cabine de locução. Foram além: ao terminar a partida tiraram a escada por onde o Queiroz iria descer. Ele se encolheu num cantinho pra se livrar das pedradas, colocou o equipamento numa maleta e ficou à espera de que os irritados torcedores se acalmassem e fossem embora.
Alguns arruaceiros cercaram, também, a saida do vestiário dos jogadores do Ferroviário impedindo-os de sair. A turma que estava atirando pedras no Osmar de Queiroz afastou-se dele e foi participar da zorra próxima aos atletas. Aproveitando-se da confusão ele conseguiu descer e, procurando não chamar a atenção, seguiu de mansinho para o portão do estádio. De repente, chegaram policiais e bombeiros e começaram a lançar jatos de água no povão, afastando-o de onde estavam os jogadores do Ferroviário. Percebendo a fuga do locutor, o bando voltou correndo na tentativa de alcançá-lo. Para felicidade do Queiroz ia passando em frente ao estádio, dirigindo seu velho jipe, um padre que era da rádio de Paranaguá e, percebendo a encrenca, salvou o locutor, levando-o para a igreja. Foi uma canseira danada. Um "corridão" que jamais foi esquecido.

Cada locutor esportivo dos velhos tempos tem uma aventura parecida para contar, pois em geral queriam bater em nossos locutores. Felizmente agora está melhor, mas vez ou outra ainda ocorrem alguns problemas. Ainda bem que nem todos os torcedores concordam com essa agrecividade

Osmar de Queiroz - correria no "Estádio da Estradinha".

 

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O Oséas da Costa Felix, o Cachimbo, como ficou conhecido, foi Secretário Executivo da AERP - Associação das Emissora de Rádio do Paraná, e durante quatro anos trabalhou na Rádio Colombo, a emissora do Ervin Bonkoski.
O Cachimbo produziu e apresentou programas e, por algum tempo, foi Comentarista Esportivo.
Certa vez, a Rádio Colombo foi transmitir lutas de boxe, realizadas no antigo Ginásio do Atlético, já demolido, onde hoje é a famosa Arena da Baixada.
Então, o Oséas quis dar uma de comentarista de boxe e foi junto com o narrador transmitir as lutas. Era a primeira vez que fazia isso. Muito empolgado, ele começou a sua participação dizendo: "O lutador Fulano entra no gramado para enfrentar Sicrano, numa luta que promete ser sensacional". E foi em frente com "Fulano acertou um poderoso direto no queixo do Sicrano que caiu estendido no gramado". Aí, o narrador não se conteve e falou no ouvido do Oséas: "Cachimbo, aqui eles lutam no RINGUE. Gramado é onde se joga futebol."

 

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Certa vez, o Mário Vendramel havia trocado de carro e quando chegou à Rádio , em meio ao bate-papo ele nos disse que havia estacionado alí em frente à Bedois, na Rua Barão do Rio Branco. O Dermeval Costa e eu resolvemos aprontar uma malandragem pro Mário. Num papel grande escrevemos, com letras garrafais: "VENDE-SE". Pusemos um preço ridículo e escrevemos em baixo: "Tratar com o Mário, na Rádio Clube". Numa porção de folhas de papel de rascunho, escrevemos um monte de bobagens e descemos a escada levando fita adesiva. Prendemos o anúncio de "VENDE-SE" na parte externa do pára-brisa e quando fomos colocar os outros papéis percebemos que a porta do carro estava aberta. Mas que beleza! O Dermeval e eu entramos no carro e enchemos de papéis a parte interna do pára-brisa, os vidros laterais, os acentos, tudo com besteiras dirigidas ao Vendramel. De repente, ouvimos gargalhadas e vimos na sacada do prédio o Mário e o Sérgio Fraga morrendo de rir. Percebendo que fôramos flagrados estranhamos a reação do Mário. Pelo certo ele tinha que dar um show de xingamentos que era o seu revide habitual quando a gente aprontava alguma pra ele. Aí, o Sérgio começou a fazer sinais pra nós, apontando mais à frente. Saímos do carro e constatamos o nosso engano e vimos porque o Vendramel gargalhava em vez de xingar. O carro dele estava estacionado um pouco adiante e nós estávamos bagunçando um automóvel idêntico pertencente a outra pessoa.
Nossa! Aí deu o desespero na gente e com a maior rapidez do mundo procuramos limpar o veículo antes que seu proprietário chegasse.
E dessa vez foi o Mário quem se divertiu a nossa custa.

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Quando comecei no Rádio, mais precisamente na Rádio Marumby, também iniciava a sua carreira o locutor Vicente Mickosz. Grande colega, excelente companheiro, ficamos amigos pelos anos afora. O tempo passou, deixamos aquela Emissora, e um dia ele assumiu a direção da Rádio Paraná. Em época mais recente, dirigiu também a Rádio Clube Paranaense. Passou a ser um dos baluartes da "Lumen", entidade católica de comunicação social.

Vicente Mickosz e eu, iniciantes no Rádio, desejosos de progredir na carreira, estabelecemos entre nós uma colaboração constante. Quando eu tinha dúvidas sobre alguma coisa, procurava o Vicente. Quando ele é que estava em dúvida, principalmente na pronúncia dos nomes de músicas italianas, era a minha vez de colaborar. E a gente foi progredindo e ambos nos tornamos diretores de Emissoras.

Eu lembro de uma gafe do Vicente.
Certa vez, com aquele nervosismo característico dos principiantes, Vicente Mickosz foi anunciar os falecimentos do dia, e foi assim que o fez:

- "Prezados ouvintes, é com o máximo prazer que anunciamos o falecimento das seguintes pessoas".

Percebeu a gafe e ficou ainda mais nervoso, ficou vermelho, mas fazer o que, corrigir de que jeito? Ele foi adiante se esforçando pra não rir enquanto seus colegas se arrebentavam em gargalhadas.

Eu conto essas coisas para que os principiantes de agora não se apavorem ao cometer um engano. Os mais destacados radialistas do passado cometeram também, e continuaram batalhando e progrediram, e venceram.

Vicente Mickosz - um exemplo de dignidade profissional.

 

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Muitos anos atrás, eu era locutor da "Emissora das Iniciativas" - assim era cognominada a Rádio Marumby. Seus proprietários eram Tobias de Macedo Júnior e Arno Feliciano de Castilho. O Gerente era o Frederico Plaisant e Herrera Filho era o Locutor Chefe.
Naquele tempo a gente tinha muito medo de cometer erros, pois eles poderiam ocasionar uma enérgica repreensão e até a perda do emprego.
Sob essa tensão, lá ia eu fazer meu horário de locução, quando lia as dedicatórias nos programas de homenagens, anunciava as músicas e lia os textos comerciais.
O Osmar de Queiroz, que era locutor esportivo naqueles tempos, foi quem me lembrou que certo dia eu fui ler o anúncio do "Nuguet", um produto para se passar nos sapatos e que, segundo seus fabricantes, conservava, amaciava e dava brilho. O final do texto era assim: "Nuguet - mais brilho ao couro dos calçados", e eu, num daqueles momentos de gênio às avessas, li desse jeito: "Nuguet - mais brilho ao couro cabeludo..." - e então parei, ao sentir que algo estava errado, e sem achar outra saída conclui: "...dos calçados". E ficou assim, para espanto de quem estava ouvindo a Rádio:
"Nuguet - mais brilho ao couro cabeludo... dos calçados".

Era mais uma gafe de um locutor novato sob tensão.

 

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