GAFES E FATOS CÔMICOS

Parte 8

Dessa eu já nem lembrava mais. Foi num encontro na Rádio CBN, quando participamos de um programa focalizando o passado da radiofonia paranaense, que o João Lídio Seiller Betteja me trouxe à lembrança esse acontecimento. Dono de uma memória de causar inveja, o Bettega lembrou do tempo em que começávamos as nossas carreiras na Rádio Marumby.

Foi em 1.952. Era o mês de junho. Eu fizera uma radiofonização da vida de Santo Antonio e nossa improvisada equipe de radioteatro estava a apresentá-la com capricho e emoção. Ali estavam Vicente Mickosz, Sílvia Loretti, Carlos Nogueira e Regina Célia, entre outros. O locutor José Jurandir Pupia também havia sido convidado, mas não chegara em tempo. O narrador era o João Lídio Seiller Bettega, o Dide. A sonoplastia ficou a cargo do Osny Bermudes, que era muito bom nisso.
Eu havia colocado num trecho do script a palavra "VOZERIO", indicando que era uma cena em que as pessoas falavam ao mesmo tempo, ruidosamente. Chegado aquele momento, todo mundo começou a falar desordenadamente, fazendo aquele vozear que a cena pedia.
Foi quando entrou no estúdio o retardatário Zé Pupia, e sem saber o que se passava gritou a todo pulmão: "FORÇA, MACACADA!!!".
Isso, ao vivo, no meio de uma cena dramática da radiofonização da vida de Santo Antonio. Lembrou o Dide que eu fiquei louco da vida.
- "Bira, você queria matar o Zé Pupia!", exagerou ele.
O Pupia era um cara muito legal, um amigão que todos nós queríamos bem... mas que, embora sem maldade, acabou com a nossa apresentação dramática em louvor a Santo Antonio.

Equipe da Rádio Marumby nos anos 50: Sílvia Loretti, Vicente Mickosz, Ubiratan Lustosa, Herrera Filho, Regina Célia, Seiller Bettega e Norberto Castilho

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O Ernani Buchmann me contou estas duas.

O Ernani Buchmann é um excelente contador de causos. Dentre as suas inúmeras narrativas, muitas das quais publicadas, ele me contou as duas que seguem.

Certa vez, inesperadamente, pediu demissão o locutor que fazia o plantão esportivo da Rádio Clube Paranaense. Coisa de última hora. No aperto, o Diretor do Departamento Esportivo catou um locutor novo que viera do interior e havia ingressado na emissora, dono de uma voz bonita e forte. Ótima voz para plantão esportivo, no estilo do Oldemar Kramer que já era o craque da época. Apesar de estar por fora do futebol paranaense, o novato aceitou o convite.
Aí, anunciaram a sua estréia, numa rodada em que jogariam, na Capital Atlético X Coritiba, e em Paranaguá o Seleto daquela cidade, contra o União de Bandeirantes.
Chegou o dia e a audiência estava explodindo por causa do Atletiba. Os jogos correndo e a expectativa de ouvir o novo plantão aumentava cada vez mais. A equipe que transmitia o Atletiba esperava ansiosamente o primeiro gol em algum dos outros jogos, só para escutar a voz do estreante. De repente, ouviu-se o vozeirão chamando:

- Ayrton!!!
E o narrador Ayrton Cordeiro respondeu:
- Esta é a voz do novo plantão esportivo da Bedois, a revelação que veio de longe. Fala, Carlos Marássi!
E o Marássi, emocionado pela estréia, trocou as bolas e falou:
- Em Seleto, Paranaguá 1, União 0.

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E a outra, contada pelo Ernani, fala de uma entrevista feita pelo Borba Filho.

O Borba Filho, um misto de comentarista esportivo e técnico de futebol, trabalhava na época na Rádio Guairacá.
Certa vez, caminhando pela Rua XV, casualmente ele se encontrou com o diretor de futebol do Coritiba e aproveitou a oportunidade para colher informações sobre o "Coxa". E veio a novidade:

- Eu estou deixando a direção de futebol do Coritiba.

O assunto interessava e ficou marcada uma entrevista na casa do desportista, um circunspeto cidadão já em idade avançada.

Borba Filho voltou à emissora e apanhou um daqueles pesadíssimos gravadores usados antigamente, e foi em busca da entrevista.

A casa impressionava pela sua antiquada beleza, onde havia "bordados, bibelôs, louças pintadas a mão" e aqueles móveis pesados de antigamente, tão bonitos e que duravam tanto. Tudo de acordo com uma família tradicional que era aquela.

Após um cafezinho servido pela esposa do dirigente demissionário, Borba Filho resolveu começar a entrevista. Procurou uma tomada, ligou o pesado gravador, aumentou o volume e resolveu examinar a fita para ver se havia algo que devesse preservar.
Nossa! Foi a pior viagem.
Antes que o Borba pudesse desligar o aparelho, o que se ouviu, em alto volume, espalhando-se pela casa, foi uma sequência de palavrões dos mais cabeludos e vergonhosos.

Algum colega gaiato e inconseqüente, que havia usado o gravador anteriormente, fizera a brincadeira de mau gosto que tanto constrangimento trouxe ao sisudo Borba Filho. Ele quase morreu de vergonha.

Borba Filho, comentarista esportivo e técnico de futebol.

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A SONOPLASTIA DO EULAMPIO

Eulampio Viana foi um dos melhores sonoplastas que tivemos em nosso Rádio. Começou jovem, 15 anos, como Operador de Som na veterana PRB-2. Ali aprendeu muito e era o substituto eventual de Rolff Mário, o grande cobra da época, na sonoplastia das novelas da Rádio Clube. Os dois eram muito bons, e vale lembrar que nos anos 50 era bem mais difícil fazer o seu trabalho, pois não havia os recursos de agora. Mais tarde, com a saída do Rolff Mário, a responsabilidade ficou toda com o Eulampio e ele deslanchou de vez.

Muitos discos foram quebrados no início da carreira, para desgosto do Jacinto Cunha que era o zeloso Gerente da Bedois

Numa de suas primeiras atuações nas novelas, havia um capítulo que terminava tendo como fundo a Marcha Nupcial. Os sonoplastas utilizavam um disco onde se encontravam diversas passagens musicais, muito próximas uma da outra, que eram usadas conforme a ocasião exigia. E tudo tinha que ser feito com rapidez. O Eulampio estava nervoso e... não deu outra. Ele errou a faixa e entrou a Marcha Fúnebre como fundo da cena em que os recém-casados partiam em viagem de núpcias. Dá para imaginar o desespero do Ivo Ferro, que era o enérgico diretor do Radioteatro.
Na hora, foi um drama, mas depois virou piada, como sempre acontece com as gafes.

Outra do Eulampio aconteceu certa vez, quando ele estava na técnica de som numa apresentação de Wilson Simonal. O famoso cantor viera a Curitiba para divulgar o seu primeiro Long-Play, e para fazer uma boa apresentação trouxe o playback com o qual cantaria.
O Eulampio estava acostumado a trabalhar com os antigos discos de 78 rotações por minuto, e foi nessa velocidade que ele colocou o LP que era de 33 rotações. Foi uma baboseira danada.
Ainda bem que o Simonal encarou na esportiva, e todos acabaram rindo do ocorrido.

Eulampio Viana na mesa de som do estúdio de radioteatro da PRB-2
Eulampio na mesa de som do auditório da Rádio Clube

 

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