GAFES E FATOS CÔMICOS

Parte 15

Numa cerimônia na Câmara Municipal de Curitiba, na noite em que nosso amigo José Coelho Filho (o Zé Pequeno) recebeu o título de Cidadão Honorário de Curitiba, eu me encontrei com o Gilberto Fontoura, diretor da Rádio 98 FM.
Papo vai, papo vem, começamos com a tradicional "hora da saudade", coisa comum no encontro de radialistas veteranos. Recordamos muitas coisas do passado e falamos, também, sobre as gafes e fatos cômicos que coleciono e apresento no programa "Revivendo", da Rádio Paraná Educativa, e publico no meu site. Vou contar mais um desses causos pra vocês, esse envolvendo o Gilberto.

Certa vez, um Atletiba, marcado para um domingo à tarde em Curitiba, teve que ser transferido por causa do mau tempo. Chovia torrencialmente em nossa Capital e os dirigentes, com o aval da Federação, transferiram o clássico para a quarta-feira. Aí a Rádio Independência, para ocupar o espaço da programação destinado ao jogo, resolveu realizar um bate-papo com diversos participantes. Conseguiu, também, um narrador na cidade de Bandeirantes, para transmitir o jogo que haveria naquela cidade, jogo que em princípio teria apenas a cobertura de um único repórter, o Olavo de Souza, que já estava naquele local.
Lá pelas tantas, o bate-papo corria solto, quando o Olavo, já com o narrador emprestado ao seu lado, fez contato com o estúdio, entrando no ar:

- "Alô, estúdio! Bandeirantes chamando." E ouviu em resposta:

- "E aí, Olavo, como está o tempo em Bandeirantes? Aqui em Curitiba chove muito e o Atletiba foi transferido." Responde o Olavo:

- "Ah, aqui tudo bem. Estamos "degustando" um belo sol."
Gilberto Fontoura não se conteve e lascou essa:

- "Olavo, sol com molho madeira ou champignon?"


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Grandes músicos que atuaram nos conjuntos regionais de nossas emissoras de rádio tocavam de orelha, ou de ouvido, como dizem outros, isto é, jamais haviam estudado música, não liam partituras e nem identificavam as notas musicais nos instrumentos. E olha, havia alguns que eram verdadeiros mestres na arte da música. Conheciam um número muito grande de acordes, dominavam o ritmo com precisão, sabiam perfeitamente os tons e atendiam de imediato à solicitação dos cantores. Eram mestres no acompanhamento e alguns eram grandes solistas. Muitas vezes acontecia de algum cantor resolver apresentar uma música que não havia ensaiado e, por engano, pedir que o acompanhassem em determinado tom que não era adequado. Nessas ocasiões, os componentes do Regional mudavam o tom ao entrar na segunda parte da música, evitando um fracasso e salvando o cantor de uma situação desagradavel. Tudo de ouvido.
A maioria era autodidata, aprendera a tocar sem ninguém ensinar, só observando os outros músicos. Sobre isso, meu amigo Toninho, Professor Antônio Vicente Pereira Filho, esposo da soprano Claudete Rufino, contou um causo que está registrado no livro do Professor Valério Hoerner - "Rádio Clube Paranaense a pioneira do Paraná". Contou o Toninho que, certa vez, ele e sua esposa conversavam num restaurante com o famoso cavaquinista e chefe de conjunto regional Janguito do Rosário, em meados dos anos 60, quando surgia a música eletrônica. Claudete perguntou ao músico como ia a vida, diante das transformações provocadas pela invasão da tecnologia musical. Ele confessou que não ia tão bem como em outros tempos, já havia músicos perdendo o emprego e ele mesmo tinha menos serviço que antes. A Claudete, então, indagou:

- "Janguito, por que você não dá aulas de música?" E ouviu em resposta:

- "Claudete, não posso, porque não sei ler partituras. Aprendi tudo de ouvido."

E era verdade. Assim acontecia com grande parte dos violonistas, cavaquinistas, e demais membros dos conjuntos regionais. Apesar disso, eles eram tão competentes que eram efusivamente elogiados pelos cantores de outros Estados que vinham atuar em Curitiba e eram por eles acompanhados. Eles davam total segurança aos cantores.
A música é um dom divino.

 

Janguito do Rosário


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Este aconteceu em 2005.
Rádio Paraná Educativa AM, sábado, 18 horas, programa "Nossa História", comandado com muita competência pela apresentadora Zélia Maria Sell. Um belo programa.
A audição do dia 27 de agosto de 2005 foi em comemoração à assinatura por Dom Pedro II, em 29 de agosto de 1.853, da Lei 704 que elevou a Comarca de Curitiba à categoria de Província, com o nome de Paraná.
Para esse patriótico programa, Zélia Maria teve convidados especiais, de acordo com a importância da data. Estavam presentes o desembargador Luiz Renato Pedroso, presidente do centro de Letras do Paraná e vice-presidente do Movimento Pró- Paraná, a diretora do Arquivo Público, Daysi Lucia de Andrade, e o economista Rubens Stelmachuk, pesquisador do Instituto Histórico, autor de um trabalho sobre os "Anos Dourados do Paraná".
Deu-se ao programa o título "O Paraná Dos Anos Dourados", lembrando toda a pujança do estado agrícola que naquela época se industrializava e os grandes nomes que se destacavam então. Zélia escolheu, para iniciar o programa, o "Hino do Paraná", com a Banda da Polícia Militar, e toda a pompa que a mesma representa. Muito solícito, o diretor da emissora, Paulo Chaves, já no início da semana havia falado a ela:

- "Zélia, para facilitar o seu trabalho, eu já vou deixar no computador o Hino do Paraná para o operador colocar na abertura do seu programa". Zélia Maria agradeceu contente a gentileza e ficou despreocupada.

Chegou o dia do programa, 27 de agosto de 2005.
O desembargador Luiz Renato Pedroso chegou mais cedo e, enquanto esperava pelos demais, ficou conversando com Enevaldo Moreira, o operador do horário. O assunto: futebol, pois sábado é dia de jogo. Quando Zélia chegou, após os cumprimentos, falou para o operador:

- "A música da abertura já está no computador: é o Hino do Paraná".

Tudo bem. Só que nem sempre as coisas saem conforme o programado. Ao ser iniciado o programa, não deu outra: logo após a vinheta de abertura, "A Paraná Educativa, AM 630, apresenta Nossa História, com Zélia Sell", eis que entrou o hino: "Meu Paranáááá, meu tricoloooor!", e até aquela chamadinha: "Paraná-á". Em vez do Hino do Estado do Paraná, entrou o hino do Paraná Clube.

- "Quase enfartei, Bira," - contou-me a Zélia, "você pode imaginar que situação?"

Na hora, microfone ligado, sem saber o que fazer e tendo que dizer alguma coisa, a apresentadora comentou com compreensível desconforto:

- "Alguém fez uma travessura; deveríamos abrir o programa com o Hino do Estado do Paraná, com a banda da Polícia Militar, e não com o hino do Paraná Clube." E, para desanuviar, brincou:

- "Acho que foi o senhor, desembargador, que estava conversando sobre futebol com o nosso operador."

O desembargador Pedroso, que sempre está bem humorado, topou a brincadeira e confirmou:

- "Fui eu, sim, que além de paranista fui torcedor do Ferroviário. Sou torcedor dos velhos tempos e queria ouvir o hino do meu time."

E depois dos risos e da descontração, o programa seguiu em frente e foi festejada a data histórica do nosso Estado. E meu arquivo de gafes e fatos cômicos ganhou mais um registro.

Zélia Sell, jornalista e pesquisadora, apresenta o programa "NOSSA HISTÓRIA", na Rádio Paraná Educativa.


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Este fato aconteceu com o Paulo Chaves que no início dos anos 2000 assumiu a direção da Rádio Paraná Educativa, no governo Roberto Requião.
Foi lá pelos anos 80. Paulo Chaves, cantor e compositor, autor da música de sucesso "Piá Curitibano", na época cantava em orquestra e em suas atuações conversava com o público, fazia imitações e divertia a platéia. Sabedor disso, Gilberto Fontoura, que era diretor da Rádio Independência, pediu ao Aldo Malucelli que convidasse Paulo Chaves para uma conversa. O resultado foi a contratação do cantor e animador para apresentar um programa nas madrugadas da Independência. Tinha o sugestivo nome de "Clube das Corujas" e era apresentado das 2 às 4 da madrugada. Paulo criou um personagem, o Matraquinha, que ficou famoso.
Quando o locutor Tôni Marcos deixou de atuar, Paulo passou para o horário da tarde num programa do qual os ouvintes participavam por telefone. Paulo os atendia fora do ar, dizia quais as músicas que estavam disponíveis, anotava a escolha e, depois, conversava ao vivo com a pessoa, fazendo de conta que não haviam falado antes. Certa vez, uma jovem ouvinte ligou para pedir uma música. Bem a que ela queria ouvir não estava programada e ela, contrariada, teve que escolher outra. Já no ar, inesperadamente ela se queixou:

- "Pois é, vocês não têm a música que eu queria e tive que escolher outra que eu nem gosto".

Chateado, enquanto a música tocava, Paulo Chaves fez um sinal ao operador indicando que desejava falar com ele. Em casos assim, o operador liga o microfone e ouve o que o locutor fala, sem que isso saia no ar. Então, o Paulo disse:

- "Escute aqui, quando a ouvinte que ligar for meio burrinha como essa, corte o microfone pra não saírem no ar essas reclamações".

Só que, por uma falha do operador, saiu tudo no ar e, para constrangimento do Paulo Chaves, todo mundo o ouviu chamar a ouvinte de burrinha. Ela inclusive.
O pior foi o medo de que ela ligasse novamente e dissesse coisas piores.


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Agora, uma do Biro-Biro, um veterano, conhecido e competente repórter esportivo. Assim como a maioria dos veteranos, claro que ele não escapou de cometer algumas gafes e criar certas expressões curiosas em sua carreira . Eu lembro de uma delas que me foi contada pelo Gilberto Fontoura.
O saudoso Lombardi Júnior para se referir ao Coritiba Futebol Clube, a equipe lá do Alto da Glória, usava um slogan, ao que parece criada por Augusto Mafus, que era assim: "Coritiba, lá do alto de tantas glórias". Isso ficou marcante e o Biro-Biro gostava desse jeito de se referir ao Coritiba, resolvendo criar um slogan para a equipe da qual ele era o encarregado de fazer a cobertura: o Paraná Clube.
Acontece que o Paraná Clube já era chamado de "a equipe da Vila", por ter seu estádio na Vila Capanema. E, um dia, o Biro-Biro, parafraseando o slogan do Coxa, lançou essa:

- "E agora as mais recentes informações sobre o Paraná Clube, o Paraná de tantas vilas!"

Ninguém entendeu e a nova expressão não colou.


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