GAFES
E FATOS CÔMICOS
Parte 12
O Júlio Mazepa, experiente
vendedor que dedicou sua competência ao Departamento
Comercial de várias emissoras de Rádio e TV,
foi quem me contou este causo.
Curitiba. Meado dos anos 90.
Numa fria manhã de inverno, antes das sete horas da
manhã, a cidade ainda estava às escuras.
Vera Lúcia Molin, então recepcionista da Rádio
Clube Paranaense, foi a primeira a chegar ao setor comercial
da emissora.
Sábado de pouco movimento, ela sentou à mesa,
ficando de frente para a porta de entrada. Estava distraída
quando a porta se abriu e ela viu num susto aquele homem todo
de branco, as vestes cheias de manchas de sangue, com uma
grande faca na mão. O homem mal falou "Você..."
e ela interrompeu-o aos gritos dizendo: "Vá embora!
Me deixe em paz! Saia daqui!", mas foi ela quem saiu,
e saiu correndo, apavorada, indo se trancar na sala do Departamento
Comercial. O homem, lá fora, gritava: "Moça!
Moça", e a Vera Lúcia morrendo de medo
lá dentro. Só com a providencial chegada de
outro funcionário da Rádio, logo após,
é que a situação ficou esclarecida. O
homem ensangüentado era um entregador de carne que estava
com seu caminhão parado na Rua Dr. Murici, nos fundos
do "Mercadorama" da Praça Tiradentes, bem
perto da Rádio Clube. Ele só queria permissão
para usar o telefone a fim de pedir aos funcionários
do supermercado que abrissem a porta de serviço para
ele fazer a entrega da mercadoria. A faca de cortar carne
era a sua arma de proteção na rua escura. Para
azar da recepcionista a Bedois era a única empresa nas imediações
que já estava com as luzes acesas naquele horário. E nessa,
até o entregador de carne acabou levando um susto danado.
* * * * *
Já contei
alguns causos com a participação do "Cachimbo".
Vou contar mais um. "Cachimbo" é o apelido do Oséas
da Costa Félix.
No período em que ele trabalhou na Rádio Colombo, no
início dos anos 70, ele ainda estava na ativa como rádiotelegrafista
do Exército. Sabedores de suas aptidões ao microfone,
os seus superiores hierárquicos o escalavam para narrar e
comentar as paradas, desfiles militares, qualquer evento em
que se precisasse de um locutor. Numa dessas, Dia da Bandeira,
depois da cerimônia tradicional da queima das bandeiras
velhas, houve o desfile em frente ao Palácio do Governo. E
o "Cachimbo" foi narrando e fazendo patrióticos comentários.
Lá pelas tantas, de forma muito caprichada, Oséas agradeceu
a presença das autoridades civis, militares e eclesiásticas,
do público em geral, e deu a festividade por encerrada.
Minha nossa, que encrenca ele arrumou! Em desespero, o coronel
seu chefe tomou o microfone da sua mão e pediu que todos permanecessem
no local. A festividade que o "Cachimbo" encerrara com capricho
não havia chegado nem sequer à metade, e ele levou
a maior bronca do coronel, daquelas que só quem já serviu
no exército sabe como são. Parece que nunca mais o escalaram
para transmitir desfiles militares.
* * * * *
Agora eu vou contar mais uma
do rádiotelegrafista Alberti.
Orlando Alberti não trabalhava em rádio, trabalhava para as
rádios. Ele recebia das Agências internacionais as notícias
do mundo e as repassava para as Emissoras de Rádio. O Alberti
era uma figura extraordinária. Ele era rádiotelegrafista do
serviço de comunicação do Exército, um especialista em código
Morse. Segundo o Oséas da Costa Félix, o "Cachimbo",
que também era rádiotelegrafista e também era do exército,
o Alberti foi um dos melhores do mundo. Às vezes, ao
mesmo tempo em que recebia as notícias em Morse, e
em espanhol, ele ficava conversando tranqüilamente com
outras pessoas. No final da transmissão ele dava um OK e datilografava
o rádio às vezes com mais de 50 palavras, e já
com tradução para o português. Memória
extraordinária. Eu falo sobre ele no Capítulo 7 da
HISTÓRIA DO RÁDIO, e também na Parte 3 de GAFES E FATOS CÔMICOS,
onde conto algumas passagens risíveis.
No quartel, o Alberti e o "Cachimbo" atuavam juntos.
No horário da noite, os operadores trabalhavam até as 24 horas,
recebendo centenas de rádios. Havia alguns colegas engraçadinhos
que lhes passavam trotes por telefone, com irritante freqüência.
Ligavam e diziam ser o coronel fulano, ou o general beltrano,
e davam ordens esdrúxulas ou faziam pedidos estranhos e, depois,
caíam na gargalhada gozando o coitado que os atendera.
Numa noite de serviço do Alberti, ele recebeu um desses telefonemas
e, já cansado, e de saco cheio com aquelas brincadeiras, ele
só esperou a pessoa falar "aqui é o general fulano" para desandar
seus impropérios:
- "Vai dormir, vagabundo! Não
fica enchendo o saco de quem está trabalhando! Seu chato,
seu filho disso, filho daquilo!" E do outro lado da linha
a pessoa dizia:
- "Escute... escute...", mas
não conseguia falar, pois o Alberti não parava de xingar.
- "Vai plantar cebola seu palhaço!"
Puxa vida! Não foi uma noite
feliz para o Orlando Alberti. Aquela vez, não era trote e
quem estava ligando era realmente o general. Conta o "Cachimbo"
que foi um trabalhão danado, no dia seguinte, explicar o incidente
para o general e pedir desculpas. A competência do Alberti
e a lábia da turma em sua defesa foram a salvação. O general
deu o caso por encerrado.
* * * * *
Foi em junho de 1990.
Sob o comando da Fundação Nossa Senhora do Rocio, a Rádio
Clube Paranaense contava com alguns sacerdotes em sua administração.
A linha de conduta dos funcionários certamente era uma das
suas preocupações. Um dia, um padre ligado à Rádio chamou
para uma conversa particular os responsáveis pelo Departamento
Comercial, Julio Mazepa e Emilson Pohl. Eles, após um período
em que haviam trabalhado em empresas distintas, haviam voltado
a trabalhar juntos na Bedois. Depois de muitos rodeios, cheio
de constrangimento, o padre criou ânimo e, com muito respeito,
perguntou se eles tinham entre si alguma ligação amorosa,
em resumo, se eram um casal.
O impacto da pergunta deixou atônitos os dois eficientes profissionais.
Depois, começaram a rir e foram às gargalhadas. E descobriram
que o culpado daquele constrangedor equívoco era o "Véio Zuza"
- esse era o apelido do Luiz Nivaldo Maciel. Emilson e Júlio
formavam uma excelente dupla de vendedores e estavam sempre
juntos nas visitas às Agências de Propaganda e aos clientes
diretos. Assim, saiam juntos, voltavam juntos, freqüentemente
no mesmo carro. Gozador inveterado, o Luiz Nivaldo os chamava
de "Casal 20". Era a maior gozação. Estando em Roma com a
equipe de Lombardi Júnior, na Copa do Mundo de 90, o "Véio
Zuza" maldosamente enviou uma "cartolina postale", assim
os italianos chamam os conhecidos cartões postais que são
remetidos sem envelope. O cartão chegou à Rádio e foi lido
por todo mundo. Estava escrito no cartão:
"Agora que vocês voltaram a formar o "Casal 20", Roma seria
o local ideal para a Lua de Mel".
Todo mundo entendeu que era gozação, menos o ingênuo e zeloso
sacerdote.
O Luiz Nivaldo festejou com gargalhadas a confusão que arrumou
para os seus amigos.
E os nossos arquivos ganharam mais um fato
cômico.
Cartão
enviado de Roma por Luiz Nivaldo Maciel. A gozação deixou
Júlio Mazepa e Emilson Pohl em maus lençóis, provocando
muitas gargalhadas da turma da Bedois.
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* * * * *
Entre os radialistas sempre
houve muitas brincadeiras, gozações e o inevitavel
aparecimeto de apelidos, alguns muito divertidos.
Eu vou lembrar algumas das alcunhas de saudosos radialistas
que lamentavelmente já nos deixaram, e de alguns que felizmente
ainda estão conosco.
* Mário Vendramel era chamado
de "Boca-Rica", só porque ele tinha num dente uma obturação
de ouro, como aquelas muito usadas antigamente.
* Sérgio Fraga era o "Jipão"
e também "Jamanta", pelo seu tamanho reforçado.
* A mim eles chamavam de Tio
Bira, e de "Espirro", pois eu era muito magro.
* Luiz Gonzaga de Freitas,
que foi proprietário da Bedois por algum tempo, era o "Jerimum",
por sua origem nordestina.
* Eolo César de Oliveira tinha
algumas bexigas no rosto e a turma o apelidou de "Farofa de
Cuque".
* Ruy Carvalho Santos, por
muito tempo proprietário da Rádio Clube, sempre estava com
o peito estufado e a turma logo passou a chamá-lo de "Peito
de Pombo".
* Luiz Nivaldo Maciel, tez
morena, quando seus cabelos ficaram brancos ganhou o apelido
de "Véio Zuza".
* Dirceu Graeser, inesquecível
colega e amigo, sempre muito magro, tinha quem o chamasse
de "Pastel de Vento".
* Oséas da Costa Felix, que
trabalhou na Colombo e na AERP, ganhou o apelido que conserva
até hoje e pelo qual é mais conhecido do que pelo próprio
nome: "Cachimbo".
* Airton Cordeiro, grande narrador
e comentarista esportivo, ganhou o apelido de "Galo".
* Demerval Costa, saudoso colega,
era o "Pestana de Boneca", e realmente ele tinha pestanas
longas.
* O veterano locutor esportivo
Antonio Carlos Gomes jamais conseguiu se livrar do apelido
de "Quati".
E tem muito mais! No ambiente
radiofônico sempre houve muitas brincadeiras, e também muita
amizade.
* * * * *
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