GAFES E FATOS CÔMICOS

Parte 1

Para avivar a memória e recordar algumas passagens da Bedois, certa vez convidei para jantarem comigo  três velhos companheiros de trabalho, todos profissionais meus contemporâneos na velha Rádio Clube: Sergio Fraga, Moacir Amaral e Mario Vendramel.

Fomos ao Restaurante Rio Branco. Cada qual pediu o seu prato, tendo o Mario preferido a “dobradinha”, saudoso dos velhos tempos em que a gente fazia refeições com muita freqüência nesse restaurante.

Lá pelas tantas, caçando os pedaços de bucho no meio do molho, ferino como sempre, o Mario não perdoou e chamou o chefe da cozinha, genro do proprietário que não estava no momento:


Mario Vendramel


- Rodolfo, diga pro teu sogro que o Rio Branco continua o mesmo. Tudo continua igual. A dobradinha, por exemplo,  é a mesma de sempre: muito gostosa, mas só meia dúzia de pedacinhos de bucho nadando numa piscina de molho!

Não demorou, trouxeram à mesa uma travessa cheia de dobradinha e sem nada de molho.


A reunião valeu, seja por termos lembrado juntos de inúmeros acontecimentos cômicos dos velhos tempos, seja pela reafirmação da velha amizade que nos unia.

Desse encontro resultou a lembrança de alguns fatos que passo a contar.

                                 *  *  *  *  *

Festival do Rádio, em Londrina.

Época de ouro da Radiofonia paranaense com a Associação Paranaense de Rádio realizando grandes eventos.

Dois aviões lotados  levaram os radialistas curitibanos para a grande cidade do norte paranaense.

Festival do Radio de Londrina

Sergio Fraga, presidente da nossa associação, coadjuvado por excelente equipe  de dedicados colaboradores, organizara uma grande festa em que estavam presentes os nomes mais expressivos do rádio brasileiro.

  
No auditório da Rádio Clube de Londrina, lotado, um desfile de grandes atrações. Anunciaram o cantor da Bedois Wilson Branco

Sob os aplausos da platéia, Wilson foi ao microfone e atacou:

-        “Distinta PRATÉIA, muito boa noite. Cantarei, do FIRME  “SUPRÍCIO de uma saudade” que está fazendo grande sucesso em Curitiba, a composição “É tão SUBRIME o amor”.  Ele foi muito aplaudido,  mas a turma nunca mais deixou de tirar sarro desse seu jeito de falar.

                                        *  *  *  *  *


Gilberto Marques
Gilberto Marquês foi, durante muito tempo, cantor da Rádio Clube Paranaense.
Com a inauguração da TV Paranaense, Canal 12, certa noite Gilberto foi convidado a participar de um programa.

Na época era tudo ao vivo, pois não havia “vídeo tape” por aqui.
Quando começou a cantar a composição “Poema”, desprendeu-se um cenário dos fundos e  foi pra cima do Gilberto.


Sem saber o que fazer, ele continuou cantando enquanto sustentava o cenário com a cabeça. Aturdida pelo inesperado a turma ria, mas ninguém foi ajudar.  

 
*  *  *  *  *


Arthur de Souza


Um dos grandes locutores da Bedois,  nos velhos tempos, foi Lóris de Souza, irmão de Arthur de Souza.

Inteligentíssimo, exímio violonista, o Lóris formou-se engenheiro e deixou o rádio.

Certa vez, quando deveria ler o texto “Para o bebê, nesse calor atroz, Talco Ross”, saiu com esta: “Para o bebê, nesse calor ATRÁS, Talco Ross”.  

       



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Mano Bastos, meu antecessor na Direção Artística da Bedois,  apresentava um programa de auditório, nos sábados à tarde.

Sobre o palco, no andar superior, havia um depósito em que o assoalho era incompleto, com espaços em que era preciso andar pisando nas vigas evitando tocar no revestimento de “selotex”, uma espécie de tratamento acústico que era muito frágil. Para piorar, a iluminação era precária.
Mano Bastos

Em meio ao “show” o Mano levou um susto danado. De repente, caíram no palco pedaços do forro e, num buraco que se abriu no teto, apareceu uma roda de bicicleta e as pernas de alguém que ficara pendurado, balançando-se nervosamente. Eram as pernas do cantor Ícaro Mation que fora guardar sua bicicleta no depósito escuro, pisando onde não devia.

O auditório quase veio abaixo de tantas gargalhadas com o imprevisto, ainda mais porque o nome do programa era “TUDO PODE ACONTECER”.  
                               

 
*  *  *  *  *  


Haroldo de Andrade, no começo de sua carreira, apresentava na Rádio Clube o “GRANDE PROGRAMA RCA VICTOR”,  composto de músicas clássicas e líricas. Cada vez que ele ia anunciar uma interpretação da soprano Maria Caniglia não conseguia pronunciar corretamente o sobrenome da famosa artista e, invariavelmente, saia Maria CANALHA. E sempre um grande desespero da Direção Artística da emissora e ruidosas gargalhadas  de seus colegas de trabalho.  
                    
Haroldo de Andrade
            

*  *  *  *  *

O Sergio Fraga e eu, em 1968, fundamos uma agência de propaganda, a Santa Lúcia, e nosso escritório era no 2º andar do Edifício Rio Branco, bem em frente ao restaurante do mesmo nome.

Sergio Fraga
Numa tarde, o Fraga atendeu ao telefone e me passou o aparelho dizendo:  

- É pra você. É a secretária do Dom Pedro.

Coloquei o fone no ouvido e fiquei à espera, enquanto    conversava com meu sócio. Perguntei:


-       
Fraga, disseram que era o Dom Pedro?

-       
É... pergunte se é o Dom Pedro I ou o Dom Pedro II.

Ingenuamente, brincando, pensando que ainda era a secretária que estava na linha, fiz a pergunta... e ouvi a voz conhecida e suave do Arcebispo dizer do outro lado, pacientemente:

-        É o Dom Pedro Fedalto, doutor Ubiratan.

Quase morri de vergonha e não sabia como me desculpar com o Arcebispo de Curitiba.


O Sergio Fraga se arrebentou de rir à minha custa.



 
* *  *  *  * 

O Dr. Hugo Cunha, Diretor Técnico da Bedois por muitos anos, provavelmente para nos provocar, tinha o costume de se proclamar ateu.

Numa época em que a Rádio Clube encerrava as suas transmissões à meia-noite, o locutor despediu-se dos ouvintes dizendo o tradicional “e até amanhã, se Deus quiser!”

Do bairro do Atuba, onde aguardava o encerramento das transmissões para fazer alguns reparos técnicos nos aparelhos, o “véio” Hugo telefonou para os estúdios só para dizer ao locutor:


-       
Se Deus quiser, não! Se EU quiser, porque depende de mim essa droga entrar no ar ou não amanhã.

Apesar desse ostensivo ateísmo, inúmeras vezes eu o ouvi  
dizer  “graças a Deus” quando superava alguma dificuldade.

Transmissores de Rádio no Atuba


*  *  *  *  *

Começar uma carreira sempre foi difícil. Ontem, como hoje, além do nervoso que a pessoa sente ao se submeter a um teste, existem os trotes aprontados pelos veteranos.

Eu vou contar como se deu o teste para cantor feito pelo saudoso Aloísio Finzetto que, em vida, autorizou-me a narrar o episódio.


O sonho do Aloísio era ser cantor de rádio.

Um dia, conseguiu um teste na Rádio Clube Paranaense.

Aloisio Finzetto
Os veteranos o receberam com muita cordialidade, colocaram-no em frente a um aparelho suspenso e um deles disse:

-       
Olha, isto é um microfone. Você fica bem perto dele. Quando eu ligar e der o sinal, você começa a cantar e vai até o final, sem parar.

Dito isso, o veterano abaixou-se, ligou o cabo numa tomada e deu o sinal.


Nervosamente, o Aloísio começou a cantar. A cantar e a suar. E com muito sacrifício suportou até o final da música.

Ao terminar, rosto vermelho, afogueado, transpirando muito, o Aloísio disse:


-       
“Puxa! Como esquenta esse negócio!”

A gargalhada foi geral! Fora um trote. O Aloísio havia cantado em frente a um antigo aquecedor elétrico, cujo formato se assemelhava aos velhos microfones de outrora.

 

 



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