GAFES
E FATOS CÔMICOS
Parte 1
Para avivar a memória e recordar algumas passagens da Bedois, certa
vez convidei para jantarem comigo
três velhos companheiros de trabalho, todos profissionais
meus contemporâneos na velha Rádio Clube: Sergio Fraga, Moacir
Amaral e Mario Vendramel.
Fomos ao Restaurante Rio
Branco. Cada qual pediu o seu prato, tendo o Mario preferido a
“dobradinha”, saudoso dos velhos tempos em que a gente fazia refeições
com muita freqüência nesse restaurante.
Lá pelas tantas, caçando
os pedaços de bucho no meio do molho, ferino como sempre, o Mario
não perdoou e chamou o chefe da cozinha, genro do proprietário
que não estava no momento:
Mario Vendramel
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-
Rodolfo, diga pro teu sogro que o Rio Branco continua
o mesmo. Tudo continua igual. A dobradinha, por exemplo, é a mesma de sempre: muito gostosa, mas só
meia dúzia de pedacinhos de bucho nadando numa piscina de molho!
Não demorou, trouxeram à
mesa uma travessa cheia de dobradinha e sem nada de molho.
A reunião valeu, seja por termos lembrado juntos de inúmeros acontecimentos
cômicos dos velhos tempos, seja pela reafirmação da velha amizade
que nos unia.
Desse encontro resultou a
lembrança de alguns fatos que passo a contar.
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Festival do Rádio, em Londrina.
Época de ouro da Radiofonia
paranaense com a Associação Paranaense de Rádio realizando grandes
eventos.
Dois aviões lotados levaram
os radialistas curitibanos para a grande cidade do norte paranaense.
Festival
do Radio de Londrina
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Sergio Fraga, presidente
da nossa associação, coadjuvado por excelente equipe
de dedicados colaboradores, organizara uma grande festa
em que estavam presentes os nomes mais expressivos do rádio brasileiro.
No auditório da Rádio Clube de Londrina, lotado, um desfile de
grandes atrações. Anunciaram o cantor da Bedois Wilson Branco
Sob os aplausos da platéia, Wilson
foi ao microfone e atacou:
-
“Distinta PRATÉIA, muito boa noite. Cantarei, do FIRME
“SUPRÍCIO de uma saudade” que está fazendo grande sucesso
em Curitiba, a composição “É tão SUBRIME o amor”.
Ele foi muito aplaudido, mas a turma nunca mais deixou de tirar sarro
desse seu jeito de falar.
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Gilberto
Marques
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Gilberto Marquês foi, durante
muito tempo, cantor da Rádio Clube Paranaense.
Com a inauguração da TV Paranaense,
Canal 12, certa noite Gilberto foi convidado a participar de um
programa.
Na época era tudo ao vivo, pois não havia “vídeo tape” por aqui.
Quando começou a cantar a composição “Poema”, desprendeu-se
um cenário dos fundos e foi
pra cima do Gilberto.
Sem saber o que fazer, ele continuou cantando enquanto sustentava
o cenário com a cabeça. Aturdida pelo inesperado a turma ria, mas
ninguém foi ajudar.
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Arthur
de Souza
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Um dos grandes locutores da Bedois, nos velhos tempos, foi Lóris de Souza, irmão de Arthur de Souza.
Inteligentíssimo, exímio violonista, o Lóris formou-se
engenheiro e deixou o rádio.
Certa vez, quando deveria ler o texto “Para o bebê, nesse calor
atroz, Talco Ross”, saiu com esta: “Para o bebê, nesse calor ATRÁS,
Talco Ross”.
Mano
Bastos, meu antecessor na Direção Artística da Bedois,
apresentava um programa de auditório, nos sábados à tarde.
Sobre o palco, no andar superior, havia um depósito em que o assoalho
era incompleto, com espaços em que era preciso andar pisando nas
vigas evitando tocar no revestimento de “selotex”, uma espécie de
tratamento acústico que era muito frágil. Para piorar, a iluminação
era precária.
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Mano
Bastos
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Em meio ao “show” o Mano levou um susto danado. De repente,
caíram no palco pedaços do forro e, num buraco que se abriu no teto,
apareceu uma roda de bicicleta e as pernas de alguém que ficara
pendurado, balançando-se nervosamente. Eram as pernas do cantor
Ícaro Mation que fora guardar sua bicicleta no depósito escuro,
pisando onde não devia.
O auditório quase veio abaixo de tantas gargalhadas com o imprevisto,
ainda mais porque o nome do programa era “TUDO PODE ACONTECER”.
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Haroldo de Andrade, no começo de sua carreira, apresentava na Rádio
Clube o “GRANDE PROGRAMA RCA VICTOR”,
composto de músicas clássicas e líricas. Cada vez que ele
ia anunciar uma interpretação da soprano Maria Caniglia não conseguia
pronunciar corretamente o sobrenome da famosa artista e, invariavelmente,
saia Maria CANALHA. E sempre um grande desespero da Direção Artística
da emissora e ruidosas gargalhadas
de seus colegas de trabalho.
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Haroldo
de Andrade
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O Sergio Fraga
e eu, em 1968, fundamos uma agência de propaganda, a Santa Lúcia,
e nosso escritório era no 2º andar do Edifício Rio Branco, bem em
frente ao restaurante do mesmo nome.
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Sergio
Fraga
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Numa tarde, o Fraga atendeu
ao telefone e me passou o aparelho dizendo:
- É pra você. É a secretária do Dom Pedro.
Coloquei o fone no ouvido e fiquei à espera, enquanto conversava com meu sócio. Perguntei:
-
Fraga, disseram que era o Dom Pedro?
-
É... pergunte se é o Dom Pedro I ou o Dom Pedro II.
Ingenuamente, brincando, pensando que ainda era a secretária que
estava na linha, fiz a pergunta... e ouvi a voz conhecida e suave
do Arcebispo dizer do outro lado, pacientemente:
-
É o Dom Pedro Fedalto, doutor Ubiratan.
Quase morri de vergonha e não sabia como me desculpar com o Arcebispo
de Curitiba.
O Sergio Fraga se arrebentou de rir à minha custa.
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O Dr. Hugo Cunha,
Diretor Técnico da Bedois por muitos anos, provavelmente para nos
provocar, tinha o costume de se proclamar ateu.
Numa época em que a Rádio Clube encerrava as suas transmissões à
meia-noite, o locutor despediu-se dos ouvintes dizendo o tradicional
“e até amanhã, se Deus quiser!”
Do bairro do Atuba, onde aguardava o encerramento das
transmissões para fazer alguns reparos técnicos nos aparelhos, o
“véio” Hugo telefonou para os estúdios só para dizer ao locutor:
-
Se Deus quiser, não! Se EU quiser, porque depende de
mim essa droga entrar no ar ou não amanhã.
Apesar
desse ostensivo ateísmo, inúmeras vezes eu o ouvi dizer “graças a Deus” quando superava alguma dificuldade.
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Transmissores
de Rádio no Atuba
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Começar
uma carreira sempre foi difícil. Ontem, como hoje, além do nervoso
que a pessoa sente ao se submeter a um teste, existem os trotes
aprontados pelos veteranos.
Eu vou contar como se deu o teste para cantor feito pelo saudoso
Aloísio Finzetto que, em vida, autorizou-me a narrar o episódio.
O sonho do Aloísio era ser cantor de rádio.
Um dia, conseguiu um teste na Rádio Clube Paranaense.
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Aloisio
Finzetto
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Os veteranos o receberam com muita cordialidade, colocaram-no
em frente a um aparelho suspenso e um deles disse:
-
Olha,
isto é um microfone. Você fica bem perto dele. Quando eu ligar e
der o sinal, você começa a cantar e vai até o final, sem
parar.
Dito isso, o veterano abaixou-se, ligou o cabo numa tomada e deu
o sinal.
Nervosamente, o Aloísio começou a cantar. A cantar e a suar. E com
muito sacrifício suportou até o final da música.
Ao terminar, rosto vermelho, afogueado, transpirando muito,
o Aloísio disse:
-
“Puxa!
Como esquenta esse negócio!”
A gargalhada foi geral! Fora um trote. O Aloísio
havia cantado em frente a um antigo aquecedor elétrico, cujo
formato se assemelhava aos velhos microfones de outrora.
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