UM
POUCO DA HISTÓRIA DA RÁDIO CLUBE PARANAENSE
Ubiratan Lustosa
- Capítulo
1 -
Primórdios!
O Rádio
do Paraná, assim como aconteceu em outros Estados brasileiros,
teve suas origens marcadas pelo grande idealismo de seus pioneiros.
Quando procuramos situar o Rádio Paranaense nos primórdios
da radiofonia brasileira, somos envolvidos por uma intensa
nebulosidade que as informações que obtemos
não conseguem desfazer totalmente. Os dados conseguidos
nem sempre coincidem e muitas vezes são contraditórios.
Explica-se: as pesquisas iniciais, fruto da curiosidade e
do idealismo, processaram-se em diversos Estados ao mesmo
tempo. Clubes de rádio surgiram e desapareceram rapidamente.
O caráter efêmero dessas agremiações
- cujos membros contribuíam financeiramente para a
sua sobrevivência - leva-nos a esquecê-las, fixando-nos
naquelas que perduraram e se desenvolveram, mantendo no ar
as suas estações emissoras até os nossos
dias. Sob este enfoque, podemos situar a curitibana Rádio
Clube Paranaense, fundada em 27 de junho de 1924, como a terceira
mais antiga do Brasil. Foram fundadas anteriormente a Rádio
Clube de Pernambuco (1919) e a Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro (1923 - por Roquete Pinto). Estas são datas
aceitas de um modo geral como oficiais, se bem que ambas as
emissoras - e também a Rádio Clube Paranaense
- tivessem surgido bem antes, na primeira década do
século, considerando-se as suas primeiras transmissões
em caráter experimental.
Para melhor entendermos esse nebuloso início da nossa
radiofonia e, também, para que possamos aquilatar o
idealismo de nossos primeiros radiodifusores, é preciso
retroceder no tempo voltando ao primeiro decênio do
século passado. Vamos tentar.
Curitiba era uma cidade pacata em que o Rio Ivo desfilava
todinho a céu aberto, com chorões beirando as
suas margens ao cruzar o Largo da Ponte (mais tarde Largo
do Chafariz, hoje nossa conhecida Praça Zacarias).
A Rua Monsenhor Celso chamava-se 1º de Março.
A Marechal Floriano denominava-se São José.
A Praça Rui Barbosa era a Praça da República,
a Rua Westphalen chamava-se Ratcliff, a Barão do Rio
Branco era a Rua da Liberdade e a Emiliano Perneta era Rua
Aquidaban.
Transitavam pela cidade, calmamente, as carroças de
toldas enceradas carregadas de mercadorias diversas. O Bondinho
de Burros - o bonde com tração animal - resistindo
com bravura aos avanços do progresso, conduzia os passageiros,
prestando um serviço que se prolongou até 1913.
Era o tempo do "mil réis" e do "tostão",
tempo em que se tinha tempo para tomar cafezinho, sentados
sem pressa às mesinhas onde se faziam poesias e maledicências.
O bandolim era o instrumento da moda, presença obrigatória
nas tertúlias de então.
O inesquecível Maestro Bento Mossurunga, empolgado
pela beleza de uma jovem que vira no "footing" da
Rua 15, compunha a sua valsa "Bela Morena".
O Grêmio das Violetas reunia a mais alta linhagem social
da bucólica Curitiba.
Faziam sucesso, produzidos aqui mesmo pelo Laboratório
Central e Pharmácia Paraná, ( Pharmácia
com PH mesmo), o Peitoral Paranaense, o Vinho Reconstituinte
e as Pílulas Purgativas.
.
A Radiofonia era uma apaixonante novidade.
Lívio Gomes Moreira, um estudioso do que se chamava
a "nova arte".
O seu entusiasmo era contagiante e, juntamente com outros
interessados, utilizando equipamento precário montado
por eles próprios, fazia as primeiras experiências
de transmissão em radiotelefonia. Eles se dividiam
em dois grupos: um ficava com o transmissor numa casa e o
outro com o receptor num local diferente. Todos ficavam maravilhados,
sem saber qual a emoção maior: a alegria de
transmitir aquelas músicas lindas ou o prazer de ouvi-las
e exaltar-se com a sua beleza. Essas primeiras experiências,
segundo alguns, começaram em 1.909.
Em 1.911 deu-se a primeira demonstração pública
de rádio-emissão . Foi na Repartição
do Telégrafo, sendo a iniciativa prestigiada pela presença
do Presidente do Estado, Sr. Carlos Cavalcanti e outras autoridades.
O tempo foi passando e após uma interrupção
sofrida em decorrência da Guerra de 1.914, reiniciaram-se
e ganharam corpo as experiências.
- Capítulo 2 -
Chega o ano
de 1924.
O arroz, graças à isenção alfandegária,
custava 400 réis o quilo. A Libra Esterlina era vendida
a 32 mil réis. O Dólar Americano custava 8 mil
e 600 réis. Um receptor de rádio, com o qual
se ouviam "até estações dos Estados
Unidos" (conforme propaganda da época), era vendido
por 120 mil réis, preço proibitivo para a grande
maioria da população.
No dia 27
de junho de 1.924 reuniram-se alguns amigos, apaixonados pela
radiotelefonia, com o objetivo de fundar um clube de rádio.
Dessa reunião foi lavrada a
"ATA
DE FUNDAÇÃO DO RÁDIO CLUBE PARANAENSE
Aos 27
dias do mês de junho do ano de 1.924, às onze
horas da manhã, na residência do Sr. Fido Fontana,
industrial desta Praça, presentes esse senhor e as
seguintes pessoas, Senhores Livio Gomes Moreira, João
Alfredo Silva, Olavo Bório, e Dr. Oscar Joseph de Plácido
e Silva, estando devidamente representados os Senhores Dr.
Ludovico Joubert, Euclides Requião, Bertoldo Hauer,
Gabriel Leão da Veiga e Alberico Xavier de Miranda,
todos amadores de radiotelefonia, foi fundada uma sociedade
tendente à difusão de radiotelefonia, a qual
tomou a denominação de Rádio Clube Paranaense.
Pelos presentes foi aclamada uma diretoria provisória,
constituída pelos senhores Fido Fontana, presidente,
Livio Gomes Moreira, diretor técnico, e João
Alfredo Silva, secretário-tesoureiro. Foi incumbido
o Sr. Livio Moreira de redigir o projeto-estatutário
a ser discutido na próxima reunião que ficou
marcada para o dia 15 de julho entrante. Enquanto não
for instalada a estação irradiadora do novel
clube, o Sr. Livio Moreira, que é o decano dos amadores
de rádio em nosso Estado, quiçá no Brasil,
por gentil deferência, ofereceu-se para irradiar diariamente,
a título experimental, pela sua pequena estação
transmissora, iniciando-se assim, desde já, a intensificação
da radiotelefonia em nossa Capital. Pelo Sr. Presidente foi
ordenada à secretaria a expedição de
circulares comunicando a fundação do Rádio
Clube Paranaense.
Nada mais havendo a tratar-se, foi lavrada a presente Ata
que vai assinada pelos presentes. "
E aí começou uma longa caminhada.
As novidades técnicas foram surgindo. Os aperfeiçoamentos
eram introduzidos. O rádio era a moda e em torno de
um receptor reuniam-se as famílias e os vizinhos para
ouvir os programas.
SQ1F foi o primeiro indicativo de chamada da nova emissora.
Em 1.933 o Rádio Clube Paranaense recebe o prefixo
PRAN.
Em l.935, inaugurando novos transmissores com l.000 watts
de potência e instalado no Belvedere do Alto de São
Francisco (ainda hoje existente e ocupado agora pela União
Cívica Feminina) o Rádio Clube recebe o prefixo
que ficaria famoso em todo o Brasil: PRB-2.
Cantores locais eram apresentados e talentos curitibanos iam
surgindo.
Em 1.930, pela primeira vez no Paraná, a Rádio
Clube Paranaense transmitiu uma partida de futebol. Foi um
"Atlé-Tiba" realizado na velha Baixada, na
Rua Buenos Aires. Há controvérsias quanto a
essa data. Dizem outros que foi em 1.933. Eu me baseio em
informações obtidas em bate-papos com Jacinto
Cunha, Eolo César de Oliveira, outros veteranos da
PRB-2, e numa conversa
que tive com Zinder Lins.
Quando diretor da Rádio Clube Paranaense, certa vez
recebi a visita do Sr. Zinder Lins, um dos autores do Hino
do Clube Atlético Paranaense. Zinder me levou de presente
uma fotografia registrando esse grande acontecimento onde
aparecem os locutores sobre um tablado e os torcedores, em
grande número, todos de terno, gravata e chapéu.
Essa foto deve estar ainda na sede da Bedois.
Em 1933 realizou-se a primeira apresentação
de teatro pelo rádio no Brasil.
A Rádio Clube reivindica esse título de pioneira
do radioteatro, modalidade de programa que mais tarde empolgou
o povo brasileiro. Correia Junior teve a idéia e convidou
seus amigos Heitor Stockler de França, poeta como ele,
e Otávio de Sá Barreto, outro intelectual, e
juntos apresentaram "A CEIA DOS CARDEAIS", de Julio
Dantas. "Correia Júnior fez o papel do Cardeal
Gonzaga (o português), Heitor Stockler interpretou o
Cardeal Mont Morerci (o francês) e Otávio de
Sá Barreto fez o papel do Cardeal Rufo (o espanhol).
"Foi um sucesso!"
Mais tarde, a Bedois chegou a manter no ar treze novelas.
Heitor Stockler de França
foi um destacado empresário e sindicalista paranaense.
Foi um dos fundadores da Federação das Indústrias
e por quatorze anos seu Presidente. Pertenceu ao Centro de
Letras do Paraná e ao Instituto Histórico e
Geográfico. Estas e muitas outras atividades que desenvolveu
não o impediram de cultuar a poesia, deixando como
legado uma bela obra literária. Foi um dos participantes
da primeira apresentação de teatro pelo rádio,
na Rádio Clube Paranaense, junto com Octávio
de Sá Barreto e Correia Júnior.
Heitor
Stockler de França
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Capitulos
3 e 4