UM
POUCO DA HISTÓRIA DA RÁDIO CLUBE PARANAENSE
Ubiratan Lustosa
- Capítulo
9 -
Em 1968 a Rádio
Clube Paranaense foi adquirida pelo grupo formado pelos Srs. João
Mansur, William Mussi e Adonis Bufrem. Foi então que houve
a rescisão de contrato de um grande número de funcionários.
Eu, entre eles. Logo após, SérgioFraga, Mario Vendramel,
os cantores, os músicos e assim por diante.
Um dia, casualmente passei pela Rua Barão do Rio Branco,
em frente ao prédio da Bedois. Fiquei chocado ao ver as
poltronas do famoso auditório empilhadas na calçada,
enquanto alguém as recolhia num caminhão para levar
embora. Pensei com tristeza: é um pouco da história
do nosso Rádio que está sendo descartado.
Por mais que evitasse conversar sobre o assunto, contaram-me depois
que os discos antigos daquela coleção enorme e histórica
haviam sido quebrados. Os arquivos de novelas e contos - os que
vieram de fora e os que nós escrevemos aqui - foram todos
queimados. Que acervo valioso para um museu do Rádio foi
perdido então.
Houve um grande esforço
no sentido de modificar o estilo de Rádio da Bedois, dando
uma imagem nova à emissora. Nessa empreitada empenharam-se
alguns radialistas de reconhecido valor, com destaque para Jair
Brito e Renato Mazanech que estiveram no comando.
A Bedois sempre teve vocação
para as transmissões de grandes eventos. Com esse espírito,
em 1.969, enviou Gilberto Fontoura à Itália para
transmitir o "FESTIVAL DE SAN REMO". Foi mais uma iniciativa
marcante.
O dia 20 de julho de 1.969 foi
de muito trabalho e grandes emoções para a equipe
da Rádio Clube Paranaense.
Era domingo. Às 10h da manhã Ney Costa e Vinícius
Coelho transmitiram, diretamente de Paris, o amistoso Red Star
x Coritiba.
Logo após essa transmissão a Clube passou a falar
do Estádio "Joaquim Américo", com o jogo
Atlético x Santos. O narrador foi Carneiro Neto, o comentarista
Marcus Aurélio de Castro e o repórter foi Dias Lopes.
Na sequência, às 17h, a Bedois passou a transmitir
de Assunção, Paraguai, o jogo Paraguai x Brasil,
em eliminatória pela Copa do Mundo de 70. A narração
foi de Fuad Kalil, os comentários de Borba Filho e reportagens
de J. Pedro, tendo Oldemar Kramer no Plantão.
Por fim, a partir das 20h, Ayrton Cordeiro (que estava nos Estados
Unidos como bolsista da Harvard University) transmitiu, diretamente
de Cabo Canaveral, na Flórida, a histórica e emocionante
chegada do homem à lua. Com essa transmissão do
passeio dos astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin em solo
lunar a Bedois completou esse dia extraordinário e empolgante.
Foram quatro transmissões de peso num mesmo dia. O Diretor
era Jair de Brito e o Diretor Comercial que conseguiu cobertura
publicitária para esse grande feito foi o competente Renato
Mazanek.
O setor esportivo continuou em
evidência com a participação de nomes de peso
como Airton Cordeiro, Fuad Kalil, Nei Costa, Carneiro Neto, Dias
Lopes, Antonio Carlos Gomes (Quati), Carlos Marassi, Wilson Brustolim,
Jota Pedro, Edson Luiz, Norberto Trevisan.
Na parte de notícias destacou-se Edson Marassi. Nas reportagens
fizeram sucesso José Domingos, José Vicente e Chaim.
Eles apresentavam, com a participação de Hamilton
Correia, um programa de grande repercussão chamado "Plantão
Policial - o olho da lei sobre a cidade".
Chaim tornou-se famoso pelo seu linguajar característico.
Ele usava a linguagem dos malandros, dos malacos como ele os chamava.
Era chamado de "Chaim, o Califa" e criou um tipo inesquecível.
Passado algum tempo,
os novos proprietários venderam a emissora para outro grupo,
este liderado pelo Sr. Munir Guérios. Pouco tempo se passou
e a Rádio foi vendida novamente, desta feita para o Sr.
Erwin Bonkowski que já era proprietário da Rádio
Colombo.
Foi uma fase muito difícil da Rádio Clube Paranaense.
Não encontrando o apôio que esperava, Erwin enfrentou
sérias dificuldades e também teve que vender a Bedois.
Nesse período
o povo paranaense esteve próximo de perder a sua popular
emissora. Terceira do Brasil, com tantas e tão gloriosas
tradições, a Rádio Clube estava prestes de
ser declarada perempta. Pela legislação da época,
as emisoras de rádio não podiam ter títulos
protestados; a Bedois os tinha em grande número. Pela legislação,
as emissoras não podiam
deixar fora do ar os seus transmissores, a não ser pelo
prazo autorizado pelo DENTEL para consertos;
a Clube estava com transmissores de Ondas Curtas desligados, por
falta de suas caríssimas válvulas. Pela legislação,
as emissoras deviam operar com os seus transmissores na potência
autorizada; as Ondas Médias da Bedois não estavam
podendo cumprir este compromisso, em mais uma falha gravíssima.
O que popularmente o povo chama de cassação estava
na iminência de acontecer. E foi então que surgiu
uma luz.
A maneira como a Rádio Clube Paranaense foi salva e a luta
pela sua recuperação não podem ser incluidas
neste capítulo de fatos tão negativos. Falaremos
adiante.
- Capítulo 10 -
UMA NOVA ERA
Por volta de setembro de 1.973,
certo dia Monsenhor Vicente Vítola, representando o Arcebispo
de Curitiba Dom Pedro Fedalto, foi conversar com Ervin Bonkówski,
então proprietário de fato da Rádio Clube Paranaense. Proprietário
apenas de fato, e não de direito,
porque a Bedois, apesar das inúmeras mudanças
de comando que sofrera, ainda permanecia como concessão
da empresa comandada pelo Dr. Ruy Carvalho Santos.
Homem perspicaz, sempre em dia com os acontecimentos e portador
de idéias avançadas, Monsenhor Vítola estava convencido da importância
dos meios de comunicação tão defendida
pelo Acebispo anterior, Dom Manuel da Silveira D'Elboux. Ele
ansiava por ver a Igreja do Paraná integrada no moderno contexto
da comunicação social. Com esse pensamento, sua influência,
seus conhecimentos e seu trabalho, já tivera a satisfação
de ver grupos ligados à Igreja Católica tornando-se concessionários
de algumas emissoras de pequeno e médio porte em nosso Estado.
Por que não sonhar ainda mais alto? Ele conhecia o poderio que
a Bedois já tivera num tempo em que era quase impossível adquiri-la.
Quem sabe na fase que atravessava já não fosse tão dificil.
Assim pensando, com a aprovação do Arcebispo Dom
Pedro Fedalto, e apesar da resistência inicial de algumas pessoas,
obteve a permissão para tentar. E estava lá, conversando com
Erwin Bonkówski.
Não foi uma negociação fácil mas, após vários encontros, chegaram
enfim a um acordo. Erwin resolveu vender a emissora. Precavido,
Monsenhor Vítola foi ao DENTEL para saber a situação da Rádio
Clube. Não era boa. Muitas irregularidades indicavam a possibilidade
de perempção da emissora. Especialista na arte de desfazer nós,
ele não se intimidou. Entendeu que havia meios de solucionar
os problemas. Compreendendo a sua intenção, o Coronel Oswaldo
Bianco, Diretor do Dentel, que também gostaria que a Bedois
fosse salva, colaborou bastante dando as orientações necessárias.
Para obter a concessão, no entanto, era preciso assumir o compromisso
de sanar os problemas. Incansável e determinado, Monsenhor Vítola
foi visitar alguns amigos, empresários experientes, em busca
de orientação. De um deles, o conceituado banqueiro Avelino
Vieira, ouviu este conselho: "Se para administrar a emissora
vocês tiverem quem entenda do ramo, vocês terão êxito".
Foram lembrados os Padres Paulinos, da "Pia Sociedade de São
Paulo", uma congregação dedicada ao apostolado dos meios de
comunicação. Eles já eram concessionários de diversas emissoras,
entre as quais a Rádio América de São Paulo. Entendiam do ramo
e tinham condições de administrar essa dificil fase inicial
da nova Bedois. E deu certo. Os Padres Paulinos aceitaram assumir
a direção da Rádio Clube Paranaense.
CRIA-SE UMA FUNDAÇÃO
Por sugestão do competente engenheiro Dr. Carlos Augusto
Schermann, da Rádio América de São Paulo,
emissora dos Padres Paulinos, os próprios sócios
remanescentes da Rádio Clube Paranaense criaram uma Fundação.
Em homenagem à Padroeira do Paraná, deu-se a ela o nome de Fundação
Nossa Senhora do Rocio.
Por que Fundação? Por ser uma pessoa jurídica autônoma o que
proporciona diversas facilidades. Uma delas é a de que os bens
de uma Fundação não pertencem a pessoas físicas. Assim, se o
seu Diretor falecer, por não ser propriedade sua a entidade
não entra em inventário, evitando-se as implicações decorrentes.
Foi uma inteligente maneira encontrada para tornar a Emissora
um patrimônio da entidade, e não das pessoas. A idéia foi usada
por outras organizações católicas em todo o Brasil. E assim,
a Bedois foi salva de se tornar perempta, e o Paraná não perdeu
a sua tradicional e poderosa Emissora.
A luta, porém, não foi fácil e deve-se louvar a coragem de Dom
Pedro Fedalto ao enfrentar esse grande desafio. Devemos ao seu
arrojo e à determinação do Monsenhor Vicente Vítola, a salvação
e a nova era da Rádio Clube Paranaense.
Monsenhor
Vicente Vitola
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Dom Pedro Fedalto
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COMEÇA A NOVA FASE
Um dia, Monsenhor Vicente Vítola entrou
em contato comigo. Ele me contou da aquisição
da Rádio Clube Paranaense por um grupo liderado por Dom
Pedro Fedalto, falou da criação da Fundação
Nossa Senhora do Rocio, e me convidou para uma reunião com os
Padres Paulinos, que estavam assumindo a direção
da emissora, para os quais havia sugerido o meu nome. Fui à
reunião, da qual participaram o Padre Soligo e o Dr. Schermann,
e voltei contratado para Diretor Gerente, ficando acordado que
eu poderia continuar com a minha Agência de Propaganda. E no
dia 1º de outubro de 1.973 eu retornei à Rádio Clube Paranaense
para gerencia-la e com a obrigação, também, de escrever uma
crônica diária.
Os Padres Paulinos contrataram, juntamente, Eurico Budolla para
Diretor Comercial, Pirajá Ferreira para Diretor Artístico e,
mais tarde, Arthur Mende para Diretor Técnico.
Aos poucos fomos formando a nossa equipe. Lançamos o "Jornal
do Meio-Dia", com apresentação dos competentes Locutores Noticiaristas
José Maria Pizarro e Borges Silva. Mais tarde, Norberto Trevisan
substitui Borges Silva e também foi brilhante. Nesse jornal
José Maria Pizarro apresentava, com mestria, as minhas crônicas
sob o título de "Primeira Página". Todos eram excelentes locutores.
Para comandar o Departamento Esportivo contratamos o renomado
narrador Ayrton Cordeiro e da sua equipe participaram Luiz Augusto
Xavier, Augusto Mafus, Dias Lopes, J. Agostinho e o famoso Oldemar
Kramer, por muitos considerado o melhor Plantão Esportivo do
Brasil.
Em agosto de 1.974 Jurandir Ambonatti ingressou na Rádio Clube
como Discotecário Programador. Era o início da sua preparação
para exercer um papel de grande importância no futuro da emissora.
Além dos problemas com o setor técnico que estava sendo reorganizado
progressivamente, tínhamos outras preocupações: readquirir a
confiança dos anunciantes e dos diretores de bancos, e reconquistar
a audiência da população. É preciso lembrar que a Bedois até
estivera fora do ar por alguns dias por motivos de ordem técnica.
Começamos a luta. Era um estilo de rádio diferente do que fizéramos
anteriormente. Os noticiários policiáis eram comedidos, não
apresentávamos programas de horóscopos que estavam muito em
voga na époga. As músicas passaram a ser selecionadas para se
adequarem a uma emissora católica. Mais do que fiscalizados
pelos padres, éramos patrulhados pelos paroquianos.
Para obter a audiência da Classe A, contratamos o famoso colunista
social Dino Almeida e criamos o programa "Dino Almeida Informa".
Visando a audiência dos jovens contratamos Dirceu Graeser que,
além de cantor e compositor, era um excelente apresentador.
Ele comandou o programa "Favoritas da Juventude".
Ubiratan
Lustosa e Dirceu Graeser sentados e
Pirajá Ferereira e Eurico Budolla em pé
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Ubiratan,
Dino Almeida e Eurico Budolla
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Ubiratan,
Airton Cordeiro e Budolla
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José
Domingos, Ayrton Cordeiro, Luiz Alfredo Malucelli, Monsenhor
Vicente Vítola, Arcy Costa e Oldemar Kramer,
numa festividade da Bedois
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Jurandir
Ambonatti e Ubiratan
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José
Maria Pizarro,
Um dos grandes Noticiaristas da Rádio Clube Paranaense
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* * * * *
Aos poucos fomos reconquistando
o que a Bedois havia perdido. Processo lento e exaustivo. Sob
muitos aspectos, é mais fácil lançar uma nova emissora
do que reerguer uma que esteve em decadência. E assim, com muito
esforço, desenvolvemos o nosso trabalho até 20 de maio de 1.976
quando deixei a Bedois e voltei a batalhar na minha Agência,
Santa Lúcia Propaganda.
Pouco depois sairam Eurico Budolla e Pirajá Ferreira, que muito
deram de si na luta pelo reerguimento da Bedois.
Vencido o seu contrato de administração, os Padres Paulinos
encerraram as suas atividades na Bedois e Monsenhor Vicente
Vítola ficou no comando.
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