ENTREVISTA
(Entrevista concedida por Ubiratan Lustosa a Marlon do Valle,
segundanista do curso de jornalismo do Centro Universitário
Positivo - UnicenP.
O trabalho foi feito para a matéria de Edição
e como o assunto pode interessar a outros estudantes, a entrevista
é reproduzida a seguir).
Marlon - Qual
a sua opinião sobre o radiojornalismo atual?
Ubiratan - Tecnicamente é bem melhor, tem mais recursos
e modernos equipamentos que permitem um trabalho melhor. Hoje
os profissionais são mais preparados, pois estudam
para isso. Antigamente, os locutores faziam de tudo um pouco,
inclusive reportagens e noticiários. A gente fazia
o que os mais antigos nos ensinavam e o que nos ditava o instinto.
Hoje, o "faro" continua sendo útil e necessário,
mas os recursos são extremamente melhores e facilitam
a atividade dos profissionais que são especializados.
Marlon - Emocionalmente,
é tão bom quanto antes?
Ubiratan - Eu acho que sim. Quem gosta do que faz, sempre
se emociona. Seja ao escrever um artigo, ao fazer uma reportagem,
sempre o lado emocional é que nos leva para a frente
e para o sucesso. Quem não se emociona com o que faz
não alcança tudo o que pode, não dá
tudo de si, e também não produz coisas emocionantes.
O radiojornalismo não pode prescindir desse item.
Marlon - Compare
o radiojornalismo de hoje com o da sua época.
Ubiratan - Pode-se dizer que éramos amadores. Bons
amadores. Superávamos as deficiências da época
com o entusiasmo e o amor pelo que fazíamos e, assim,
fazíamos um bom trabalho. Os gravadores eram enormes
e pesadíssimos, os microfones também eram grandes.
Não havia satélite, tudo era feito por linha
telefônica e nem sempre com boa qualidade de som. A
Internet não existia. Muita notícia se obtinha
com rádio escuta, sintonizando Emissoras do Brasil
e do exterior. A Rádio Marumby, onde comecei minha
carreira, foi a primeira a utilizar "Walk-Talk",
o microfone sem fio, e muita canseira eu passei, pois os aparelhos
eram pesados e incômodos. Seu alcance era limitado.
Mas foi um avanço.
Marlon - A
falta de tecnologia atrapalhava?
Ubiratan - Dificultava o nosso trabalho. Era mais difícil
fazer as coisas. Nós nem imaginávamos como seriam
os recursos de hoje e, por isso, eles não nos faziam
falta. É evidente que tendo hoje mais recursos técnicos
o trabalho pode ser feito com mais rapidez, mais qualidade
e mais riqueza. Mesmo assim, muita coisa se fazia na base
na improvisação e acabava dando certo. Diversas
vezes eu entrevistei participantes de corridas de bicicletas
de longo alcance durante a realização da corrida.
Ladeávamos o carro de reportagem com a bicicleta de
um corredor que se destacasse dos demais, eu aproximava do
corredor o microfone amarrado num cabo de vassoura. E saía
a entrevista.
Marlon - A
evolução da Internet pode modificar o radiojornalismo?
Ubiratan - Para a obtenção de informações
com mais rapidez, mais detalhes, certamente será de
grande valia. Aumentará o campo de ação
dos jornalistas, será uma poderosa arma para realizarem
seu trabalho, mas não afetará a audiência
do radiojornalismo. As pessoas continuarão preferindo
ouvir as notícias pelas Emissoras. É mais cômodo
ouvir do que ler. Mesmo quando a notícia vem com som
na Internet, para irmos a um site jornalístico perdemos
mais tempo do que ligando nossa Emissora preferida.
Marlon - Conte
alguma história envolvendo a falta de tecnologia da
época.
Ubiratan - As Emissoras enviavam o som dos estúdios
para os transmissores por linhas telefônicas. O serviço
telefônico não tinha a qualidade de agora e com
frequência havia pane nas linhas. No início dos
anos 50, eu ainda era novo na Rádio Marumby, onde iniciei
minha carreira, e algumas vezes fiz companhia ao nosso técnico
Herbert Rüllei para desembaraçar as linhas. Quando
havia vendavais os fios se enrolavam e a Rádio saia
do ar. Às vezes isso acontecia durante a noite, e era
uma tremenda mão de obra encontrar os embaraços.
Às vezes a Emissora só voltava ao ar no dia
seguinte. Só mais tarde é que conhecemos os
links que levam o som do estúdio para os transmissores
sem problemas e com excelente qualidade.
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