DELÍRIO SENIL

Ubiratan Lustosa
1.987

Invado a bruma que o passado abraça
e busco, aflito, por teu vulto esguio.
Do tempo a névoa meu olhar embaça...
é tarde e tremo de velhice e frio.

Quisera ver-te uma vez mais, com graça,
trazendo a primavera ao meu estio,
romper a teia que cruel se enlaça
na velha lâmina sem ponta ou fio.

Que bom se eu fosse a planta que renasce,
da chuva ao beijo fresco e benfazejo,
recuperando viço, aroma e cor.

E então, de novo, a gente se encontrasse
e no senil delírio do desejo
pudesse ser feliz... morrer de amor!

(Do livro "NOSSO ENCONTRO COM A POESIA DE UBIRATAN LUSTOSA").