UM HOMEM NO ESPELHO

Ubiratan Lustosa

 

Que extraordinário fascínio o poder exerce sobre os homens.
Para alcança-lo, o homem suborna e se deixa subornar, compra e se deixa comprar, esquece os princípios de honradez e dignidade, não hesitando em lançar mão dos meios mais escusos e enganando a sua própria consciência com a falsa ideia de que o fim justifica os meios.
Felizmente, nem todos os homens estão corrompidos.
Felizmente, nem todos estão contaminados pela doença do poder, por essa necessidade de influência, por essa desvairada busca de status sem o qual alguns não conseguem viver.
Felizmente, na busca dos altos postos, do poder, da fortuna, nem todos comercializam a sua consciência. Na verdade, ainda são muitos os que seguem os ensinamentos dos mais sábios que pregam a moderação, o respeito aos ditames da honra, a vida feita de atos nobres, as atitudes corretas despidas de segundas intenções e malévolos interesses.

Felizmente, sim, a maioria do nosso povo é simples, sincera, pura em suas intenções, limpa em suas atitudes, séria em suas decisões.
Felizmente, a maioria cultiva as virtudes que são transmitidas de pais para filhos e mesmo que já não se use o fio de barba como penhor da palavra empenhada, ainda se dá valor aos compromissos assumidos, ainda se sustenta o que foi dito, ainda se cumpre o que foi prometido, ainda se consegue distinguir o certo do errado, o que ultrapassa o limite da esperteza e ingressa no campo da pilantragem.

Cada vez que alguém mente ou trapaceia, esquece a honradez e violenta a dignidade, ajuda a cavar a vala comum onde será lançado junto aos que, em busca de poder e fortuna, agiram com vilania, perdendo o direito de ser tratados como homens e como tal respeitados.

É preciso que se unam os que creem nas forças morais que sustentam a humanidade e sigam os caminhos indicados pelos que têm a consciência limpa, os que conseguem dormir em paz, os que ao se olhar no espelho nele veem refletida a imagem de um homem de bem e não de um safado.

Os sérios devem unir-se, para que a seriedade continue prevalecendo.

Do livro NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA.
Instituto Memória Editora.
http://www.institutomemoria.com.br/detalhes.asp?id=176