UMA GUERRA SEM FIM
Ubiratan Lustosa
8 de maio de 1945.
Nesse dia cessavam as hostilidades nas frentes de batalha.
Parecia que o mundo, após um período de intensa loucura, finalmente voltava
à razão.
Verdadeira carnificina, a Guerra Mundial deixava um doloroso saldo de miséria,
destruição e morte.
Cidades inteiras arrasadas,
famílias dizimadas, sobreviventes mutilados física e psiquicamente.
Era como se um furacão de ódio tivesse varrido a face da terra.
Os efeitos dessa hecatombe seriam sentidos pelos anos afora, pois a guerra
deixa profundas cicatrizes, marcas indeléveis de um reinado atroz de crueldade
imensa.
Finalmente, findava o pesadelo. Terminava, naquele 8 de maio de 1945, a Segunda Guerra Mundial.
Teria o mundo aprendido a dolorosa
lição?
Estaria a humanidade livre para sempre dessas atrocidades, desses genocídios?
Estaríamos iniciando uma nova era de paz definitiva, de compreensão, de harmonia,
de solidariedade e amor?
A opressão e os desvairados sonhos de hegemonia estariam sepultados para sempre?
A discriminação racial e a crença em raças puras teriam findado, também?
O ódio, as perseguições, as torturas, as matanças, teriam acabado?
Tristemente, lamentavelmente,
dolorosamente, os anos futuros demonstrariam que não.
Os desentendimentos prosseguiram, as lutas continuaram, o primado do ódio
se estabeleceu em diversas regiões da terra, e o terrível holocausto parece
ter sido em vão.
A liberdade pela qual se lutou
continua um sonho.
Em nome da paz, o homem continua fazendo guerras.
Erguendo a bandeira da justiça, o homem continua praticando as maiores iniqüidades.
O espectro de uma nova conflagração mundial ronda o mundo ameaçadoramente.
E por que se lutou tanto? Por que tantas vidas foram ceifadas? Esses ideais tão nobres, em nome dos quais tantas vítimas tombaram, onde estarão?
A guerra mundial findou em 1945, mas continuou uma luta sem fim em busca da liberdade. Luta cada vez mais cruel, pois novas e mais abjetas formas de confrontação foram surgindo. Os sequestros se multiplicaram, o terrorismo difundiu-se pelo mundo, maquiavélicas tramas são urdidas por grupos para os quais o fim justifica os meios.
E a gente chega à conclusão de que a liberdade e os direitos se conquistam a cada dia, numa guerra sem tréguas, numa guerra sem fim.
Faltou à humanidade, cansada e ferida, mutilada e neurótica, ao sair de uma guerra tão longa e tão cruel, uma reciclagem espiritual. Faltou o retorno ao amor e à fraternidade que conduzem ao entendimento e à concórdia.
De nada servirão mil guerras se o homem não vencer a si próprio e não melhorar a si mesmo.
Renegando o reinado do amor, sempre encontraremos o ódio!
Do livro NOSSO ENCONTRO
COM UBIRATAN LUSTOSA - Crônicas.
Instituto Memória Editora.
http://www.institutomemoria.com.br/detalhes.asp?id=176
ra no site www.ulustosa.trix.net)