QUANDO A ESMOLA É DEMAIS
Ubiratan Lustosa
Dona Antonia, minha saudosa mãe, nas frequentes lições que
dava aos filhos usava muitos ditos populares, tão comuns nos velhos
tempos. Desses adágios, muitos ficaram na minha lembrança, e um deles é
o que adverte:
"Quando a esmola é demais, o santo desconfia".
Esse velho provérbio serve para nos alertar contra aqueles que fazem excessivas promessas quando desejam alguma coisa, quando precisam de nós, porque, em geral, quem promete muito não está disposto a cumprir os compromissos, e pagaremos caro pelos exagerados agrados que recebemos.
Ao longo da vida, a gente vai verificando que essas velhas
máximas consagradas pelo povo, estão cheias de sabedoria e encerram a filosofia
adquirida pela experiência acumulada através do tempo. Por isso, sigo o
conselho e desconfio de quem promete muito, de quem se propõe a resolver
tudo como num passe de mágica, de quem tem soluções para todos os problemas
e remédios para todos os males. Em geral, quem se oferece para arrumar a
vida de todo mundo está mesmo é querendo arrumar a própria vida.
E a gente, muitas vezes, embarca nessas canoas furadas, deixa-se impressionar
por esses cantos de sereia e um dia descobre que tudo não passou de palavras,
nada mais do que palavras...
e promessas, nada mais do que promessas. Apenas fanfarrice que depressa
se esvai, deixando o gosto desagradável da decepção na boca dos que
foram crédulos.
Prefiro quem é sincero e simples e não esconde as dificuldades, ao mesmo tempo em que coloca todos os seus talentos para resolver os problemas e se doa, entrega-se ao trabalho, mantendo a humildade dos grandes e a serenidade dos sábios.
Todos nós estamos cansados de conversa fiada e ansiamos
por sinceridade, desejamos que se fale menos e realize mais. Já não aguentamos
demagógicas promessas de autodenominados salvadores da pátria que tanto
apregoam e tão pouco realizam. Precisamos de líderes autênticos que tenham
sensibilidade para os anseios da nação e por ela trabalhem com visão,
sem ludíbrios, sem discursos vãos, sem promessas enganosas.
Não queremos magos, queremos gente séria, comedida, gente que pesa as palavras
e, prometendo menos, realiza mais.
Do livro NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA
Instituto Memória Editora
http://www.institutomemoria.com.br/detalhes.asp?id=176