PARLAMENTARES IMPRUDENTES
Ubiratan Lustosa
O descaramento de alguns membros do Congresso, revelado
nas declarações que fizeram em defesa de suas mordomias com viagens aéreas,
causa espanto, revolta e preocupação.
Espanto por não ser um fato isolado; faz parte de uma sequência de atos
reprováveis.
Revolta por demonstrar um total distanciamento desses parlamentares com
os interesses e anseios populares.
Preocupação porque fortalece o ânimo daqueles que - com a descrença
popular causada pela derrocada moral do legislativo - alimentam sonhos de
governos totalitários.
Essas manifestações de alguns parlamentares já não podem mais ser toleradas e os seus pares que mantêm o senso moral deveriam repreender e alertar esses imprudentes que estão acelerando o seu próprio fim.
Infelizmente vivemos tempos em que os crimes de políticos
são aliviados e os que os cometem são acariciados com suaves tapinhas nas
costas. Houve ocasiões em que se mudou até a definição dos delitos
e todos passaram a ser pequenos desvios de conduta. Certamente isso está
errado.
Se o presidente disse que também cedeu passagens a
sindicalistas quando deputado federal, isso não minimiza as falhas agora
reveladas. Presidentes também cometem falhas. Se o fez, paciência,
abusou também e seu erro não deve servir de exemplo. Esse esdrúxulo modelo
de ética não se deve aceitar.
Sou de um tempo em que os políticos mereciam nosso respeito.
Havia parlamentares ilustres, grandes tribunos, legisladores sérios.
Ainda estudante, muitas vezes fui à Assembléia Legislativa do Paraná para
ouvir os debates entre Vieira Neto e Laertes Munhoz, dois gigantes de nossa
cultura jurídica. Quantas lições de civismo, de oratória, do uso correto
da língua portuguesa, verdadeiras aulas de patriotismo. E não eram apenas
eles. Outros havia que também davam lições de democracia, defendiam com
ardor as suas causas, batalhavam com denodo em linguagem adequada e argumentação
inteligente. Havia elevação de propósitos e dignidade representativa. A
gente os admirava.
Hoje, se for feita uma pesquisa em que se pergunte ao povo se o Congresso deve ser eliminado, não se surpreendam se a massa for a favor da sua extinção. Lamentável, mas compreensível ante tantas decepções que a atual legislatura nos trouxe. A simples idéia já nos espanta, pois seria um fato desastroso.
É urgente que muitos de nossos políticos, pensando em sua própria sobrevivência, reciclem a sua conduta e se reaproximem do povo, não confundam o que é público com o que é privado, reaprendam as normas do respeito aos interesses da nação.
Ou mudam ou serão mudados.
* * *
Leia também "Pulmão da Democracia" http://www.ulustosa.com/Cronicas/PULMAO_DA_DEMOCRACIA.htm
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