Ubiratan Lustosa
Um dos meus grandes amigos, Waldemar Berttolin,
(já partiu faz algum tempo), quando visitávamos um companheiro
convalescente, após ouvir as agruras pelas quais o mesmo passara, dizia
brincando:
- É amigo, pelo que nos conta, você andou perto do galo pelado.
Todos sabiam que era a sua maneira de se referir às Parcas, deusas
da mitologia encarregadas de cortar o fio da vida. Dizia-se que se a pessoa
estava mal aparecia para ela um galo pelado. A gente levava tudo na brincadeira
e fazia o amigo doente rir um pouco.
Pois, meus amigos, não é que eu andei bem perto do galo pelado?
Vou contar pra vocês porque serve de alerta para todos.
Tudo começou com algumas perdas temporárias de visão
no olho esquerdo. Fui consultar minha oftalmologista que após os exames
constatou que nada de errado havia com meus olhos e me recomendou uma visita
urgente a um cardiologista. Foi o que fiz e após uma bateria de exames
de todos os tipos e preços veio a constatação: de vários
problemas detectados o mais grave era a obstrução de 90% de
minha carótida esquerda. Era preciso abrir caminho para a circulação
do sangue. Aí passei a dar mais valor ao plano de saúde que
há anos tenho na Unimed. Constatei também o poder que tem o
apoio da família e como faz bem o incentivo dos amigos. Fui internado
no Hospital VITA-BATEL e sob o comando do Dr.Robertson procedeu-se o cateterismo
e em seguida angioplastia para colocação de stent. Tudo correu
bem. Maravilha. Só que por causa dos contrastes, necessariamente aplicados
para a realização de alguns exames, houve a retenção
de água em meus pulmões, dificultando a respiração.
Haja diuréticos e uma inusitada visita ao banheiro dia e noite, a toda
hora.
Após tudo isso, outros exames, novo cateterismo e a conclusão
de que, em decorrência de um infarto em que nada senti, parte de meu
velho coração está definitivamente prejudicada. Puxa
vida, tive a sensação de estar no bico do corvo. Veio a decisão
dos médicos de salvar o que ainda está bom. Mais problemas para
a competente Dra. Cíntia resolver. E ela está resolvendo.
Essa está sendo a nossa luta. Estou melhorando gradualmente e até
acredito que dessa eu me safei. Parece que Deus está me brindando com
mais uma temporada. Sou grato a Ele porque aqui está bom.
Na verdade, num exame grosseiro, a gente tem duas opções: encarar
tudo isso na velhice ou morrer jovem. Eu acho que assim está melhor.
Dias atrás meu velho e querido amigo Luiz Nivaldo Maciel, o “Véio
Zuza”, me telefonou e fiquei sabendo que ele também andou batendo
biela e está em tratamento.
Liguei para outro amigo do peito, o Arati, denominado pelo saudoso Sérgio
Fraga “o príncipe do acordeão”, a fim de agradecer
o envio do disco que ele gravou e com o qual me presenteou, e não é
que ele também está com problemas de saúde?
A maioria dos meus amigos está na faixa dos 70 a 80 anos. Queiramos
ou não, os problemas de saúde virão.
Não faz muito tempo, comentei com o Leszek Celinski o fato de diversos
amigos terem partido no decorrer de 2009. Ele me disse:
- Ubiratan, a nossa fila está andando.
Achei graça e fui contar para o Algaci Túlio. Sabem o que ele
me disse?
- É verdade. E vou contar pra você que eu já não
levanto os braços nem para rezar nas igrejas, com medo que o Chefe
aproveite e me puxe lá para cima.
Humor negro de todos nós? Não. Apenas uma maneira de encarar
sorrindo uma realidade inevitável.
E para findar, um recado pra vocês, meus leitores e ouvintes. Dizem
que se conselho tivesse valor ninguém dava; vendia. De qualquer forma,
dou a dica: não esperem os problemas surgirem para correr ao médico.
Como prevenção, consultem um cardiologista. O coração,
esse tesouro que temos no peito, age como a natureza: quando mal tratado dá
o troco.
Ah, sim, e não esqueçam de pedir para examinar as carótidas.