MULHERES
Ubiratan Lustosa
Um dia desses fui com minha mulher ao supermercado. Caminha
pra cá, caminha pra lá e ela, naquela abençoada mania
feminina de fazer economia, escolhia atentamente o
que comprar. Eu a seguia, como de costume, exercendo a minha dignificante
função de piloto de carrinho de supermercado. De repente,
uma jovem e bela senhora, que estava perto de nós, falou em voz facilmente
audível:
- Amorzinho, aqui tem os seus biscoitinhos preferidos. Vamos levar pra você?
Instintivamente olhei para trás a fim de ver quem era o inspirador de tanto carinho e atenção. Nossa, que surpresa. Era um cara grandão, gordo e barrigudo, com a barba por fazer. Feio como a desgraça. Mesmo assim, sua esposa carinhosamente, meigamente o chamava de amorzinho.
Na verdade, não havia porque me espantar. Essa é uma das inúmeras especialidades das mulheres. Elas conseguem deixar bonito o que é feio, transformar uma corriqueira compra em supermercado num momento de amor e ternura. As mulheres são assim, criativas por natureza, amorosas por vocação. São, de fato, seres misteriosos e abençoados. Sofrem bem mais do que nós e reclamam muito menos. Resistem mais à dor, são mais abnegadas, muito mais atentas e dedicadas, cumprindo com desvelo as obrigações mesmo que injustamente ganhem menos do que os homens.
Hoje, por iniciativa das Nações Unidas, mais
uma vez se comemora o "DIA INTERNACIONAL DA MULHER".
A dolorosa ocorrência que acabou inspirando essa homenagem foi em
8 de março de 1857. Consta que, numa histórica manifestação
de protesto, as mulheres mostraram a sua indignação pela excessiva
carga de trabalho e pelos baixos salários que recebiam. Eram operárias
das fábricas de vestuário e têxteis de Nova Iorque.
Houve caminhadas, greve, protestos. Numa das fábricas as mulheres
ficaram presas e 129 delas morreram durante a ação policial,
vítimas de um incêndio criminoso que ocorreu.
Foram mártires de um sonho. E as mulheres de todo o mundo, pelo tempo
afora, continuaram seus protestos e vêm lutando até hoje em
busca de respeito e direitos iguais.
E em 1975 a ONU transformou o 8 de março no DIA INTERNACIONAL DA
MULHER.
Elas merecem mais do que isso. O respeito por elas, as homenagens
a elas, a defesa da dignidade delas, devem ser atos reais durante todos
os dias de todos os anos.
Afinal, além de tantas virtudes, só elas têm a abnegação
de chamar de amorzinhos os gordos, barrigudos e barbados homens que têm
a ventura de tê-las por companheiras.
Do livro Nosso Encontro com Ubiratan Lustosa.
Instituto Memória Editora.
http://www.institutomemoria.com.br/detalhes.asp?id=176