FICAMOS ASSIM?
Ubiratan Lustosa
Então, ficamos assim: ele faz de conta que não
sabia de nada, e a gente faz de conta que acredita nele.
Deixa-se o tempo passar, a poeira abaixar, a memória falhar. A mídia
terá outras preocupações, outros escândalos a
registrar, e a gente vai levando. Afinal, é da nossa cultura, segundo
ele mesmo falou. Será uma atitude cautelosa que tomaremos em nome
da preservação da nossa frágil economia que poderia
ser abalada ante uma ameaça de tempestade.
Tudo bem, mas será que temos esse direito?
Será que podemos optar pela omissão ante fatos tão
contundentes, para evitar uma suposta debacle em nossa economia?
Será que se pode achar patriótico preservar alguma autoridade
quando são investigadas as entranhas da maior e mais perversa fraude
já cometida em nosso País?
Será que podemos esquecer que essa deplorável patifaria trouxe
para o nosso povo, mais do que o prejuízo moral e financeiro ao Estado
e à Nação, a imensurável tragédia da
decepção que gera a desoladora descrença?
Nosso povo esperava dignidade e recebeu em troca imoralidades,
acreditava em lisura e encontrou falcatruas, prometeram-lhe decência
e lhe deram engodos.
Não se pode fazer isso impunemente. E quando a mentira é feita
justamente pelas pessoas que mais teriam obrigação de falar
somente a verdade, a punição deve ser ainda mais rigorosa.
Para castigar quem desrespeita o povo, quem o engana, quem o prejudica,
quem destrói a sua esperança, só mesmo o repúdio
e a execração. Por isso, nada pode ficar escondido. O povo
tem o direito de saber exatamente quem o iludiu, quem o traiu, quem malversou.
E para conhecer a verdade não importa o preço.