ESTÁ FALTANDO JUÍZO.

Ubiratan Lustosa.

Quantas pessoas deverão morrer para que se entenda que as guerras são estúpidas, desnecessárias e cruéis?
Quantos soldados irão tombar até que os líderes das nações compreendam que não possuem direitos sobre a vida dos cidadãos, dela dispondo a seu bel-prazer, movendo homens como se fossem bonecos, à distância, através dos cordéis de uma exagerada autoridade?
Quanto sangue precisa ser derramado para satisfazer essa ânsia louca de luta, de extermínio, de carnificina?
Até que ponto é aceitável que os líderes das nações que podem evitar as guerras, o derramamento de sangue, o sacrifício de vidas, tendo condições de fazê-lo, não o façam?

Até onde vai a possibilidade de diálogo e onde ele deve ser substituído pela luta?
Haverá, mesmo, a necessidade de guerras?
Realmente não se pode evitar tanta crueldade, tanta insensibilidade, tanto desperdício de vidas?
Estarão os líderes mundiais bem preparados para essa liderança que de alguma forma obtiveram?
Por que os homens não esquecem definitivamente das armas, optando pela negociação que é o apanágio dos seres racionais, a glória dos povos civilizados?

Acompanhando tantas guerras em tantos pontos do mundo, tanta desavença em tantos locais deste planeta, qualquer pessoa fica abismada ao ver que tantas lições – duras lições – foram esquecidas.
Não se aprendeu ainda que o bem maior de uma nação é composto pelos cidadãos que a integram, e que essa juventude lançada nos campos de batalha é a maior esperança de qualquer povo e deveria ser preservada com carinho.
Por que sacrificá-la? Por que a ganância, a intransigência, essa exacerbação de ânimos exaltados que cega e leva a atitudes extremas?

O mundo evoluiu tanto... Já era hora de se agir mais racionalmente, com mais compreensão.
Já era hora de uma paz efetiva deixar de ser mera utopia. Já era hora de haver mais elevação de propósitos, mais respeito à vida humana.
Já era hora do diálogo ter substituído a luta armada.

Quantos hospitais, quantas escolas, quantos benefícios as populações dos países beligerantes poderiam obter com as fabulosas somas que são gastas durante uma guerra?

São perguntas que a gente se faz, contemplando esse tresloucado mundo em luta.
E vendo tudo isso, e lembrando que enquanto se fabricam armas sofisticadas, de tão elevado custo e tão mortais efeitos, não se tem dinheiro para as pesquisas no combate às doenças, não se extingue a fome, não se vence o desemprego, não se dá escola a todas as crianças, a gente conclui:

- Falta não só amor à humanidade; está faltando juízo, também!


Esta crônica também está no livro NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA.
Instituto Memória Editora.