EDUCAÇÃO CABE EM QUALQUER PARTE
Ubiratan Lustosa
Talvez seja a agitação dos dias atuais, esse corre-corre
na luta pela vida, essa movimentação e essa pressa das pessoas,
características desta época tão cheia de dificuldades.
Talvez seja a competição cada vez maior, essa busca
de espaço, diária, cansativa e cada vez mais difícil, na procura
de meios para a sobrevivência.
Talvez seja isso tudo que está tirando da vida o encanto
de outras épocas e subtraindo da convivência humana o cavalheirismo, a civilidade,
a cortesia, a fineza de trato e até mesmo a mais elementar educação.
Aquele tratamento respeitoso de outros tempos, em que uma pessoa era cortês
com a outra, lamentavelmente parece estar desaparecendo.
Hoje, em muitas famílias, as pessoas se tratam aos gritos, rudemente, grosseiramente. Nas empresas, entre colegas de trabalho, em muitas ocasiões falta aquela amabilidade tão boa de se ver. Nas ruas, nas praças, nas escolas, onde quer que se aglomerem as pessoas, a impressão é de que todos têm cada vez mais pressa e cada vez menos educação. Dentro dos veículos de transporte coletivo as regras de civilidade são esquecidas, há grosserias a mais e boas maneiras a menos. E o tratamento rude e desrespeitoso acontece em múltiplos sentidos, seja dos motoristas e cobradores para com os passageiros, seja dos usuários para com os profissionais referidos, ou seja dos passageiros entre si.
Aquela educação do berço, tão decantada, estará desaparecendo?
Na verdade, não está. As boas maneiras continuam sendo ensinadas. Felizmente,
continua havendo educação. Continuam existindo e sendo ensinadas
as boas maneiras, difunde-se ainda a cortesia, ainda se ensinam o respeito
e a consideração.
Acontece que os malcriados chamam mais a atenção,
os grosseiros se destacam, os rudes se projetam, e a impressão que
fica é de que somos todos um bando de animais tratando-se a coices
e cabeçadas. Chegou-se a um ponto em que as pessoas já têm
vergonha de ser educadas.
É contra isso que precisamos reagir.
Precisamos começar cuidando de nós mesmos
para que não entremos inadvertidamente no ritmo da deseducação
e da falta de civilidade. E continuar, procurando manter em casa, com os
nossos familiares, um relacionamento onde impere o respeito e a cortesia
esteja sempre presente. Em nosso trabalho, se temos cargos de chefia, devemos
procurar dar exemplos de boas maneiras, conclamando os nossos subordinados
para que deem ao seu relacionamento com os colegas e clientes essa mesma
característica de cavalheirismo.
E nos coletivos, e nos elevadores, e nas casas de comércio, nas ruas,
em qualquer lugar, procuremos fazer que prevaleçam as regras da amabilidade.
É preciso que os educados se imponham. Se muita gente
começar a pensar no assunto, breve teremos uma reação contra essa insensibilidade
que nos ameaça. E a maioria voltará a ser cortês, fina, educada. Assim,
certamente será muito melhor a nossa convivência.
Ou seguimos esse caminho, ou aos poucos nos transformaremos em bichos.
Do livro Nosso Encontro com Ubiratan Lustosa.
(Instituto Memória Editora - 2009).