DIA DO TEATRO
Ubiratan Lustosa
Foi muito cedo, aos dez anos de idade, que senti as primeiras e inesquecíveis emoções de entrar num palco para representar. Era um salão muito grande, num prédio da Rua Nunes Machado, pertencente à Paróquia do Imaculado Coração de Maria. O edifício abrigava as sedes de algumas associações religiosas e servia para inúmeras atividades. E tinha um andar inteiro para espetáculos teatrais. Foi ali que peguei gosto pela coisa.
Outras participações vieram e passei a integrar o elenco
de teatro amador da Congregação Mariana do Coração de Maria. Muitos espetáculos,
giros por diversas cidades próximas, até que um dia me atrevi a escrever
a minha primeira peça, "Herdar é Humano", uma comédia de costumes que apresentamos
por muito tempo e em diversos salões.
Mais tarde, do meu programa de auditório "Ciranda Infantil" - apresentado
inicialmente na Rádio Marumby e depois na Rádio Clube Paranaense - surgiu
o Teatro Infantil Paranaense, com elenco permanente de crianças. Para esse
empreendimento tive uma excelente sócia, Isis Rocha, cantora lírica do Grupo
Experimental de Operetas do Paraná.
Nosso objetivo primordial não era formar atores, mas despertar nas crianças
o interesse pelo teatro e formar platéias para o futuro. E aí reside o grande
valor do teatro infantil, ele cria público para essa arte de extraordinária
beleza, pois nunca mais a gente perde o gosto pelo teatro. Mesmo assim,
revelamos talentosos artistas mirins.
Como os textos que encontrávamos eram todos escritos para a interpretação
de atores adultos, e o nosso elenco era infanto-juvenil, passamos a escrever
em parceria as nossas próprias peças. Surgiram então "O Rei e o Sapateiro",
"A Flor do Moinho" e "A Fadinha Sapeca".
Após uma pausa, em 1.973 voltei a escrever para o teatro de crianças,
dessa vez para elencos de atores adultos.
A peça "As Aventuras do Príncipe Zambar" foi encenada por um conjunto estudantil
sob a direção de Telmo Faria. Em outras temporadas a "CENA - Produções Artísticas"
apresentou essa peça, com direção de Danilo Avelleda.
Valeu, e muito, a minha experiência nessa atividade artística.
No meio teatral, não obstante as rivalidades naturais entre atores e conjuntos,
formam-se grandes amizades e se aprende a trabalhar em equipe. Do bom desempenho
de cada um depende o sucesso de todos. Cria-se uma grande união.
Por outro lado, ao escrever peças teatrais você dá espaço a sua criatividade,
você aprende e ensina, enaltece e critica e, de alguma forma, através da
fantasia você pode ajudar a criar uma nova realidade.
Essas recordações me vêm à mente porque 27 de março é o
Dia do Teatro. É dia de prestarmos homenagem a todos aqueles que nos palcos
de nossas casas de espetáculos, grandes ou pequenas, permanentes ou improvisadas,
ou sob a lona dos circos, fazem do teatro a sua profissão ou a sua realização
como diletantes.
A homenagem é também para os participantes do radioteatro, do teleteatro,
do cinema, para todos esses artistas e técnicos que com dedicação, com amor
à arte e não raro com sacrifícios, levam ao público a cultura e o entretenimento,
proporcionando tantas emoções ao nosso povo.
Entendendo que não há papéis grandes ou pequenos, a homenagem é para os
galãs e as heroínas, para os que fazem os papéis principais e para os que
fazem as pequenas pontas, porque todos têm o seu valor e de todos depende
o êxito de uma representação.
E que sejam lembrados não apenas os artistas que aparecem para o público,
mas também os que ficam ocultos nos bastidores dos espetáculos: cenógrafos,
figurinistas, contra-regras, maquinistas, eletricistas, enfim todos os que
participam de um espetáculo teatral.
A todos esses batalhadores da arte cênica, com admiração e respeito, prestemos
a nossa homenagem.
Está no livro
"Nosso Encontro com Ubiratan Lustosa".
(Instituto Memória Editora - 2013).