DIA DOS ARTISTAS

Autor: Ubiratan Lustosa

 

Transcorre em 24 de Agosto o Dia dos Artistas e eu quero abraçar, com admiração e respeito, todos aqueles que se dedicam, com talento e inspiração, a alguma espécie de arte.

Quero saudar todos os artistas, desde aquele humilde artesão que, com o seu canivete, esculpe na madeira as imagens mais toscas, até o escultor culto e acadêmico, de cujo cinzel erudito saem as obras que as gerações admiram.

Quero saudar o pintor emérito que a todos encanta com as suas telas de magistral beleza e o singelo pintor de paredes que também é um artista, e do qual muito se exige em dedicação e esmero.

Quero saudar os autores de obras musicais de rara beleza, que escrevem melodias imortais no pentagrama onde as notas bailam suavemente, levando-os à consagração mundial... e quero saudar também os compositores de páginas musicais populares, das toadas aos fandangos, dos baiões aos cateretês, das modas de viola aos sambas que mexem com a gente.

Quero saudar os atores teatrais que, na ribalta iluminada, provocam emoções e arrancam aplausos, levando o público às lágrimas e às gargalhadas, fazendo do palco a sua vida e a sua realização artística.
A todos os que cantam, os que bailam, os que escrevem, os que interpretam, os que dirigem os espetáculos, os que fazem os cenários, os trajes adequados, a iluminação que tantos efeitos produz, a todos eu abraço com respeito e admiração.

Quero saudar, com muito afeto, os escritores e os poetas, talento explodindo em forma de prosa e verso.

Quero abraçar, com muito carinho, os artistas circenses. Esses abnegados que, sob a lona cara e resistente dos grandes circos ou sob a remendada e frágil cobertura dos circos mais pobres, extravasam a sua arte popular, muitas vezes em troca apenas do aplauso de uma platéia sempre exigente, essa platéia que facilmente desce da ovação que consagra à vaia que constrange e aniquila.

E no DIA DOS ARTISTAS eu quero abraçar, com muito afeto, o brasileiro comum, artista de todas as horas que se equilibra na corda bamba das dificuldades, plantando bananeiras e fazendo cambalhotas, rindo e chorando, sempre exposto ao perigo nesse trapézio da vida em que nem mesmo aplausos conquista. Todo brasileiro é um artista, um malabarista, um equilibrista que consegue superar obstáculos e vencer dificuldades, um perito na arte de sobreviver.

Sim, também saúdo o artista operário, o artista lavrador, o artista bancário, funcionário público, comerciário, industriário, e por aí afora. Porque todos só conseguem continuar vivos com muito engenho e arte, resistindo à camisa-de-força de um orçamento familiar difícil de administrar.

Vamos festejar, todos juntos sim, o Dia dos Artistas.

(Do livro "Nosso Encontro", coletânea de crônicas radiofônicas de Ubiratan Lustosa).