DIA DE FINADOS
Ubiratan Lustosa
Dia 2 de novembro é o dia em que a saudade é o grande sentimento
que a todos envolve.
Saudade dos entes queridos que seguiram antes nessa viagem que um dia todos
faremos.
Saudade daqueles que amamos e que já partiram, deixando-nos suas lembranças,
seus ensinamentos, seus gestos de alegria e suas expressões de tristeza,
recordações que guardamos com carinho e que nos permitem viver de novo essas
presenças tão queridas.
O Dia de Finados é um dia de saudade que devemos cultivar,
mas não como um sentimento doentio que nos traga prostração e tampouco revolta
e inconformação, a não aceitação dos desígnios de Deus que
nem sempre compreendemos. Não é, também, um dia que nos leve a desejar a
morte na esperança de reencontro com os que se foram.
O Dia de Finados é um dia de saudade transformada em fé, em esperança e
caridade.
Dia de fé, porque cremos que a morte não é o fim, mas o início de uma nova
vida.
Dia de esperança, por confiarmos que Deus recebeu em seu regaço aqueles
que amamos e que já deixaram este mundo.
Dia de caridade porque, os que aqui ainda estamos, oramos e pedimos a Deus
que abençoe os que já partiram, esquecendo as suas falhas, perdoando as
suas faltas e dando-lhes a paz.
E o Dia de Finados é, também, um dia propício a reflexões,
para lembrarmos aquela grande lição de humildade que nos é dada pela Igreja,
na Quarta-feira de Cinzas, quando nos adverte: "Lembra-te, homem, que és
pó e ao pó retornarás".
Se nós meditássemos essa verdade, seríamos menos egoístas e mais desprendidos,
menos afoitos na busca de riquezas e mais magnânimos ao distribuí-las,
menos rigorosos com os defeitos alheios e mais severos com as nossas próprias
falhas,
menos exigentes e mais tolerantes.
Seríamos menos ódio e mais amor,
menos vingança e mais perdão.
Seguramente, estaríamos mais próximos de Deus.
A lembrança de que um mesmo fim a todos aguarda, deveria
fazer que a gente cultivasse melhor os bons sentimentos, levando-nos a buscar,
através da fraternidade, a união,
e pela união o bem-estar geral.
Na verdade o Dia de Finados nos sugere muitas meditações
e nesse dia dos mortos devemos, também, lembrar dos vivos que de
nós precisam e aos quais podemos ser úteis.
É importante salientar que cada um de nós, por mais humilde que seja, por
mais pobre que seja, por menos ilustrado que seja, sempre terá dentro
do coração algo de bom para doar a quem precise de apoio. Uma simples palavra,
um conselho, e mais do que tudo um exemplo, são úteis e necessários.
Essa é uma grande razão para que desejemos continuar vivendo, por mais pesado
que nos seja o fardo da vida que carregamos.
Vamos reverenciar os mortos, lembrá-los com carinho na saudade que conforta, e vamos viver e lutar enquanto tivermos forças e não for chegada a nossa hora de partir.
Procuremos ser bons hoje, para sermos uma grata lembrança no amanhã.
Do livro "NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA
(Instituto Memória Editora - 2013).