DE VOLTA AO PASSADO


Ubiratan Lustosa


Vez ou outra eu me dou ao luxo de ficar matutando sobre o tempo que passou.
Voos longos de volta ao passado nas asas mágicas da saudade. Vou revivendo as cenas que adornaram minha infância e ficaram para sempre na lembrança. Caminho pela minha Curitiba mais de setenta anos atrás.

Hoje, não sei porquê, lembrei dos dias distantes dos fogões à lenha.
Puxa vida, nos tempos do fogão à lenha a vida era bem mais difícil para as donas de casa. Pra todo mundo.
De início, acender o fogo, quando a lenha não era muito boa ou estava úmida, representava um sacrifício danado. Era preciso ficar soprando a brasa até o fogo se firmar. Ao soprar, caiam cinzas pelo chão e a cozinha era invadida pela fumaceira que deixava ardidos os olhos da gente.
Mas havia outros problemas pra gente enfrentar com os fogões à lenha. Aquele picumã que grudava na chaminé, com o tempo se avolumava e pegava fogo. A gente tinha que jogar água lá de cima, dentro da chaminé, para apagar as labaredas. As famílias mais ricas chamavam o limpador de chaminé para fazer o serviço. Aliás, essa é uma profissão extinta, pelo menos nos grandes centros.
Eu já estava esquecendo de citar mais uma desvantagem desse fogão: quando o carroceiro descarregava a lenha em frente de casa, a gente tinha que recolher e cortar em achas pequenas para facilitar na hora de acender o fogo. Esse, em geral, era serviço dos mais jovens. Cansei de fazer isso quando era piá. B
racatinga era a madeira preferida.
Havia, porém, algumas vantagens no uso do fogão à lenha. A comida, na verdade, ficava muito boa. Parece que tinha mais sabor que a de agora que é feita em fogão a gás ou forno de microondas.
O fogão à lenha, além da comida gostosa, tinha outros pontos a seu favor. No inverno, que já foi bem mais rigoroso em Curitiba, o fogão aquecia a casa. Nos lares mais simples ele fazia o papel da lareira das mansões de outrora.
Muitos usavam o fogão à lenha para secar roupas em cima da chapa, secar casca de laranja com a qual se fazia chá e até para secar linguiça quando a mesma era feita em casa. Sim, havia também os bolos, macios e deliciosos, feitos no forno, com muitos ovos colhidos no galinheiro do quintal.
Ah, como tudo mudou.
A gente tem tanto conforto hoje em dia que nem lembra dessas coisas do passado. Muita gente nem sabe que se usava fogão à lenha nas residências e muito menos que limpador de chaminé já foi uma profissão.

 

(Do site www.ulustosa.com)

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