CARNAVAL
Ubiratan Lustosa
E chegou o carnaval.
Já? Nossa, como o tempo passou depressa!
Não se assuste; em algumas cidades brasileiras a folia começou
faz tempo e a população, cantando e dançando, antecipou
o reinado efêmero de Momo.
Agora, chegou o ápice da festa.
Premido por tantas dificuldades, o povo efetivamente precisa de uma válvula
de escape para aliviar as tensões e esquecer os estressantes problemas
da vida moderna. E, para muitos, o carnaval é o melhor remédio.
Participando dos folguedos comandados por um rei que tem que ser gordo e
uma rainha que tem que saber sambar, o povo se diverte e canta, ri e pula
nessa festa de origem pagã, hoje tão difundida e apreciada.
No passado, muito se condenou o carnaval que hoje é aceito quase
sem restrições. A licenciosidade dos nossos tempos, transmitida
para os mais recatados lares através da televisão, com cores
e sons contagiantes, rompeu barreiras e transpôs limites antes invioláveis.
Os tempos mudaram.
Que o povo se divirta, pois disso precisa muito.
Que o povo cante e dance, pule e gargalhe, aliviando as tensões,
relaxando nessa terapia coletiva, esquecendo por algum tempo a dureza dos
dias atuais, a insegurança, a poluição, as hecatombes,
as ameaças constantes sob as quais se vive atualmente.
Oxalá, no entanto, conserve o bom senso, evite os excessos, brinque sem ofender, fazendo do reinado de Momo uma festa de alegria e não de provocações, uma folia que deixe boas recordações e não tristes lembranças que gerem tardios arrependimentos.
Que os foliões aproveitem esses dias para confraternizar,
que usem os seus direitos sem ferir os direitos alheios.
Que não aconteça como em outros anos em que com a Quarta-feira
de Cinzas chegaram muitas desilusões e tristezas, remorsos e angústias,
lágrimas tristes que poderiam ser evitadas.
Que cada um saiba brincar, sem romper as barreiras da conveniência, fazendo dessa festa popular uma diversão sadia que não mereça ser estigmatizada como o reinado dos excessos, dos abusos e das inconsequências.
Do livro
NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA.
(Instituto Memória Editora - 2013).