A QUEDA DA BASTILHA
Ubiratan Lustosa
Incluída entre os feitos que mudaram
os rumos da humanidade,
a Tomada da Bastilha em 14 de julho do distante 1789,
celebrada pelos franceses e evocada por todo o mundo,
serve para muita meditação a governantes e governados.
Serve para lembrar que a opressão e a tirania não são
eternas,
e nem duram para sempre a subserviência e a humilhação.
Quando caiu a Bastilha, símbolo da
dominação de classes insensíveis aos reclamos populares,
com a massa em fúria destruindo o que encontrava pela frente e matando
nobres e potentados, o mundo inteiro foi sacudido em suas estruturas. Em
muitos lugares distantes os povos despertaram para movimentos reivindicativos
de direitos e de liberdade. Houve, a partir de então, mudanças
profundas nas bases socioeconômicas de diversos países.
Mais que movimento de um povo, uma ideia universal, a Revolução
Francesa teve marcante influência e ajudou a mudar os destinos de
muitas nações.
E por isso a data deve ser lembrada.
Para se lembrar, também, que não se suprimem impunemente as
liberdades dos povos, e que as classes em que se divide a sociedade não
devem separar-se ao ponto de se criar entre si um abismo.
Para se lembrar de que capital e trabalho não se devem hostilizar,
mas viver em harmonia e recíproco respeito.
Para se lembrar de que não é destruindo os ricos que se promove
a ascensão dos pobres, e que as supremas e mais caras aspirações
da humanidade não são obtidas quando se nivela por baixo o
atendimento às necessidades humanas.
Para se lembrar de que os que detêm o poder possuem, também,
mais obrigações, e na medida em que mais mandam, mais devem
prestar contas.
Para se lembrar de que os governos existem para servir às nações
e promover o bem-estar dos povos.
Para se lembrar de que patrões e empregados não devem ser
inimigos, odiando-se e vivendo em conflito, mas, isto sim, devem juntos
procurar soluções, ouvindo-se mutuamente e cada lado procurando
examinar os problemas e dificuldades do outro lado.
Ainda hoje há muitas Bastilhas a
serem tomadas por todo o mundo.
Há uma Bastilha em qualquer lugar em que o povo seja oprimido pelos
seus dirigentes. Há uma Bastilha em todo lugar onde os direitos são
pisoteados, onde a liberdade é esmagada, onde minorias se impõem
e escravizam, onde grupos ou classes oprimem e exploram e se beneficiam
e locupletam, insensíveis às agruras da imensa legião
de humildes e necessitados que formam a maioria das pessoas.
Por isso a data em que se comemora a Queda da Bastilha, deve efetivamente ser evocada, e por todo o mundo, em todos os países, porque a ideia que plantou germinou por toda parte, transcendeu as fronteiras e atravessou os oceanos tornando-se universal.
Ninguém oprime impunemente para sempre.
Há que se viver em harmonia, com respeito, pois, afinal de contas,
somos todos iguais perante Deus e perante a lei!
Do livro NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA
, coletânea de crônicas
radiofônicas. (Instituto Memória Editora).