A DIFÍCIL ARTE DA ESCOLHA
Ubiratan Lustosa
Resolvi fazer a minha seleção
de políticos a fim de encontrar aquele
a quem darei meu voto para presidente nas próximas eleições.
Comecei por enumerar as virtudes que desejo encontrar nos candidatos e alguns
defeitos pelos quais tenho aversão. Achei que seria tarefa simples
e rápida e me enganei. Não foi. A minha escolha tornou-se demorada
e penosa.
Quero dar meu voto para alguém em quem eu perceba um grande amor ao
Brasil e seu povo. Essa pessoa deve ter um profundo respeito pela nossa gente.
Quanto à honestidade, nem se fala, pois é condição
sine qua non.
Quero votar numa pessoa pura, limpa, de conduta ilibada. Não se trata
de pessoa que prometa ser honesta; tem que já ser honesta.
Exijo respeito pelos bens públicos. Todo político tem que saber
separar o que é seu do que é da nação e nunca
usar indevidamente, para si ou para outrem, aquilo que não lhe pertence.
O meu voto só será dado para alguém que tenha seriedade,
que não minta, que assuma quando errar e que me transmita a confiança
de imediata correção dos erros eventualmente cometidos.
Desejo que comande o país alguém que tenha competência
e coragem para solucionar nossos múltiplos problemas ainda não
encarados ou mal resolvidos.
Quero alguém que tenha personalidade suficiente para vencer o fascínio
que o poder exerce sobre as pessoas. Alguém que eleito continue simples
e não se deixe dominar por ambições desmedidas. Alguém
que trabalhe visando unicamente cumprir o dever de servir à nação
e não fique bazofiando a cada minúscula conquista obtida.
Gosto de gente que não tem antolhos, gente com visão independente
e amplidão de conhecimentos. Que tenha cultura sim, pois ela faz falta.
Gosto de quem é perseverante sem ser teimoso, bom sem ser pusilânime,
enérgico sem ser cruel.
Quero alguém que tenha lucidez e sabedoria para distinguir corretamente
o bem do mal, o certo do errado.
Moral e ética são indispensáveis; o comando de um povo
exige isso.
Procuro alguém que saiba escolher companheiros honestos, gente que
lhe dê apoio sem jamais faltar com a dignidade, sem praticar manobras
escusas, sem alimentar interesses ocultos.
Busco uma pessoa que não seja atrelada a ideologias contrárias
à democracia, que defenda intransigentemente a liberdade de expressão
e todos os direitos inerentes à cidadania.
Estou procurando uma pessoa que respeite e proteja a minha crença de
cristão e as demais manifestações de fé religiosa.
Sim, desejo alguém que creia em Deus e O respeite.
Procuro alguém que repudie o terrorismo como justificativa para a imposição
de ideias ou obtenção de conquistas.
Quero ter como presidente do meu país alguém que seja sincero
ao emitir sua opinião sobre pessoas ou atos e não um camaleão
que se pronuncie conforme os seus interesses de momento.
Quero eleger presidente alguém que não seja dado a esse grave
e inaceitável defeito que é a demagogia. Alguém que não
explore a ingenuidade popular.
A essa altura de minha seleção
resolvi parar, apesar de haver mais anseios a enumerar e rejeições
a anotar.
Será que tenho o direito de exigir tudo isso em troca apenas do meu
voto? Estou convicto que sim.
Talvez alguém ache que estou exagerando e isso não passa de
uma utopia. Lamento e me desculpo, mas tem que ser assim. E aí está
a razão da escolha ser demorada e difícil. Deixem-me sonhar.
Em toda essa explanação o meu propósito é convidar
a todos para uma reflexão: o que almejamos para o Brasil, quem desejamos
que nos governe?
É hora de pensar.