AOS HOMENS DE BEM
Ubiratan Lustosa
A dubiedade nas palavras, as segundas intenções sempre presentes
embora ocultas, a insinceridade nas afirmações,
as atitudes duvidosas, os procedimentos destituídos
de firmeza, a falta de hombridade de tanta gente hoje em dia, tudo isso
caracteriza uma época difícil para se viver.
Já não se exige que os homens sejam como em tempos passados, quando a palavra era honrada com todas as implicações que pudesse trazer, ainda que cumpri-la representasse os maiores sacrifícios, privações e desventuras que se estendiam aos familiares daquele que se sacrificava para não merecer a imputação da pecha de sem-vergonha.
Já não se espera encontrar a reta espinha dorsal de outrora, quando os homens tinham a têmpera do bronze, preferindo quebrar a serem vergados.
Há, no entanto, um pouco a que se tem o direito de esperar
dos homens, um mínimo de que se precisa para que a sociedade tenha um comportamento
harmonioso e não esboroem as suas estruturas.
É imprescindível que sejam mantidas algumas normas do respeito recíproco,
pelo menos algumas, para que o homem continue merecendo ser chamado de homem.
Hoje em dia, estudam-se as leis para aprender as chicanas,
evita-se assinar para não precisar responder pela assinatura, e a palavra
- da qual tantos são tão pródigos - cada vez se emprega
mais e vale menos.
A malandragem campeia. Visando certos fins escusos são usados todos
os meios, por mais condenáveis que sejam.
Há uma avalanche de sem-vergonhice desabando sobre nós. Gente sem caráter,
pessoas sem princípios, homens sem dignidade aumentam em número e em descaramento.
Aqueles que se mantêm numa linha de conduta compatível com a dignidade não
raro são prejudicados e zombados pela caterva de malandros que se espalha
por toda parte.
Isso precisa ter um fim.
Seria bom que os homens dignos, sérios, honestos, bons, os que respeitam
a si próprios e por isso respeitam aos outros, procurassem se unir em torno
das idéias nobres, cerrando fileiras em busca de uma reorganização
dessa sociedade que vem sendo corroída pelos cupins dos nossos tempos.
É preciso que os homens sejam homens, que a palavra empenhada seja respeitada ainda que não haja assinaturas ou documentos. É preciso que se proceda com lisura, com intenções claras, com atitudes dignas, porque precisamos confiar uns nos outros e não se pode permitir que a falsidade, o descaramento e a malandragem se imponham livremente.
Esta é uma conclamação aos homens de bem, àqueles que prezam os seus antepassados que procediam com tanta nobreza, para que se mantenham firmes em seus princípios, jamais se afastando da reta linha de conduta, mesmo que o desânimo os tente a desistir da seriedade nesta época em que as falcatruas, a pilantragem e o desrespeito parecem estender o seu domínio.
Só com a união e mobilização dos homens sérios, dignos e decentes é que o bem continuará se sobrepondo ao mal.