ANIVERSÁRIO DE CURITIBA

Ubiratan Lustosa

Quando a gente quer bem a uma cidade o seu aniversário é motivo não apenas de alegria, mas também de recordações. É como se fosse uma pessoa muito querida, alguém da família, e os parentes e amigos reunidos para festejar a data.
A gente fica lembrando o tempo em que aquela pessoa era pequena, suas travessuras, seus encantos, as pequenas coisas que já denotavam a sua personalidade, as suas preferências, os perigos por que passou, numa sequência de reminiscências tão caras para todos.

Assim acontece com as cidades, e no dia do aniversário de nossa Curitiba muito amada eu fico lembrando de outros tempos em que ela era bem mais moça e já tão querida.
No meu bairro classe média, na época conhecido como Campo da Cruz, como era bom de se viver. Como havia criançada, que bandos enormes de guris jogando bola na praça em frente à Igreja do Coração de Maria.

Que festa quando os carroceiros vinham trazer lenha e a gente pegava a rabeira das carroças, por quadras a fio, nas ruas de macadame.
E o corre-corre da piazada quando aparecia o "nego" Bate-Bate, um negro fraco da ideia e do qual, apesar de inofensivo, a gente tinha tanto medo.
E a "nega" Maria Balão, malcriada como ela só, que fazia as recatadas senhoras mudarem de caminho temendo vexames.

Havia o bonde, barulhento e tão econômico. Eu me lembro que certa vez aumentaram o preço da passagem de um tostão para duzentos réis e houve um quebra-quebra. Parece incrível, mas eu vi destruírem um bonde na Rua 24 de Maio, em frente ao Colégio Iguaçu.

Como eram diferentes as Praças Tiradentes e Zacarias.
Que saudade do Cine Luz!...
Antes de começar o filme as meninas ficavam de pé, de costas para a tela, apoiadas no espaldar das poltronas... e os rapazolas circulavam pelos corredores do cinema no mais romântico e curioso ritual de paquera. E havia o "footing" na rua XV. Era um vaivém de rapazes e moças, e das trocas de olhares furtivos nasceu muito casamento.

Como era romântica a Curitiba de outros tempos. Terá o progresso prejudicado esse romantismo? Claro que não! Curitiba continua uma cidade linda, humana, misturando coisinhas provincianas com os avanços de cidade grande.
Lugar excelente para se viver e conviver, apesar do crescimento em Curitiba ainda há pessoas que se conhecem.
Se já não se encontra tempo para bate-papos e muita gente não sai de casa por causa da televisão e por medo de assaltos, mesmo assim existem muitos atrativos.
Ruas largas, excelentes parques, ar ainda de boa qualidade, locais inúmeros para refeições e diversões e, acima de tudo, um povo bom e ordeiro, tudo isso faz de Curitiba uma cidade muito amada. Sou feliz por ter nascido aqui.

Adoro viver em Curitiba, com todas as suas virtudes e seus defeitos. Com todas as estações do ano num só dia, com aranha marrom incomodando a gente, mas também sendo a Capital Ecológica do Brasil e um exemplo de educação e cultura.
Por isso, falando "quadradinho" ao nosso jeito, eu quero saudar minha cidade e sua gente na passagem de mais um aniversário.

Deus te abençoe Cidade Sorriso e te conserve assim, admirada e amada, cidade cheia de ternura, verdadeiro ninho de paz e amor!

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Do livro NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA
Instituto Memória Editora