ALEGRIA NA SENZALA

Ubiratan Lustosa


13 de maio de 1888.
Nas senzalas o canto triste dos negros escravos era substituído por festas e expressões de alegria.
Rompiam-se nesse dia os grilhões da vergonha, e o Brasil punha fim à escravatura odiosa - página triste e vergonhosa da nossa História.
Procurava-se apagar uma nódoa que começara nas caçadas cruéis de seres humanos nas selvas africanas, que continuara nos porões infectos dos navios negreiros, que prosseguira nas plantações brasileiras onde os negros eram tratados como animais e seu triste destino era trabalhar até a exaustão, sem direitos e carregados de deveres.

Nesse dia, tornava-se vitoriosa a luta de tantos brasileiros que não podiam mais suportar tanta iniquidade.

Assinando a Lei Áurea, a princesa Isabel acabava com a escravidão no Brasil... e apressava em consequência a queda da monarquia em nosso pais. Ela dava um golpe profundo nos interesses de poderosos senhores e sofreria o revide, já que as investidas republicanas, cada vez mais fortes, acabariam por derrubar o regime monárquico.
Assim, prejudicando a si mesma e a sua real família, ela disse não ao trabalho servil, ela disse não ao pelourinho, ela disse não à crueldade e à injustiça.
E ao sair do trono ela já havia entrado para a História.

Os anos passaram e neste pais, ainda em nossos dias, assistimos a manifestações segregacionistas de pessoas que não se dão conta de que a ignomínia não era ser escravo, mas fazer escravos, ter escravos. Se alguém errou, foi o branco que escravizou e não o negro escravizado, pois a cor da pele não altera a condição humana de ninguém.

Hoje, neste 13 de maio, brancos e negros devem celebrar juntos, como irmãos que são, reavivando o propósito sadio de combater todo tipo de escravidão, venha de onde vier e se dirija a quem quer que seja.

Reverenciemos a memória da Princesa Isabel, essa extraordinária mulher que não se omitiu quando a História pediu sua definição, que não hesitou em fazer o que achou certo mesmo prejudicando a si e a sua família, que colocou seus sentimentos de humanidade acima dos seus próprios interesses.

Façamos do 13 de maio uma data de confraternização e de proclamação da igualdade de todos os povos e todas as raças. E, acima de tudo, uma data de respeito aos seres humanos, sejam quais forem as suas origens, seja qual for a cor da sua pele.


Do livro NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA - Crônicas
Instituto Memória Editora
http://www.institutomemoria.com.br/detalhes.asp?id=176